Investimentos

Vale (VALE3) e Santander (SANB11) na agenda de balanços e desistência de Biden: destaques do mercado nesta semana

A esperada desistência de Joe Biden da corrida eleitoral neste domingo deve agitar os mercados, junto com a temporada de balanços do 2T24.

Por Matheus Spiess

22 jul 2024, 09:01 - atualizado em 22 jul 2024, 09:47

bolsa de valores estados unidos mercado financeiro
Imagem: Pixabay

Bom dia, pessoal. O mercado ainda comenta sobre o apagão nos sistemas globais ocorrido na sexta-feira (19), conforme mencionamos na semana passada. No entanto, este não é o principal tema desta semana. Internacionalmente, os investidores estão repercutindo a oficialização da desistência de Biden da corrida presidencial dos Estados Unidos, uma decisão esperada, mas que pode trazer alguma certeza aos mercados, potencialmente corrigindo os excessos do “Trump Trade” observado na semana passada.

Além disso, a temporada de resultados corporativos ganha tração tanto nos EUA quanto no Brasil. Exemplos notáveis de empresas que divulgarão seus resultados esta semana incluem Alphabet (GOGL34), a dona do Google, Tesla (TSLA34), Coca-Cola (COCA34), GM (GMCO34) e Ford (FDMO34).

Os futuros americanos iniciam a semana em alta, assim como os mercados europeus nesta manhã. Este movimento positivo no Ocidente contrasta com a situação na Ásia, onde a incerteza política sobre os futuros passos dos EUA, combinada com a reação ao corte inesperado do Banco Popular da China nas taxas de juros para níveis historicamente baixos, afetou o mercado.

Os índices chineses Shanghai Shenzhen CSI 300 e Shanghai Composite caíram 0,7% cada um nesta segunda-feira, refletindo essas preocupações. Assim, embora o apagão global ainda seja um assunto em pauta, os desenvolvimentos políticos e econômicos internacionais, junto com a divulgação de resultados corporativos, são os principais focos de atenção nesta semana.

A ver…

· 00:57 — Vamos ver o que nos reserva esse detalhamento

No Brasil, a semana é marcada não apenas pela temporada de divulgação de resultados, incluindo empresas como Vale (VALE3) e Santander (SANB11), mas também pela expectativa em torno da divulgação do IPCA-15, a prévia da inflação oficial, programada para quinta-feira (25).

Além disso, hoje (22) à tarde será detalhado o relatório bimestral de despesas e receitas, que incluirá os cortes planejados para 2025.

O governo anunciou uma contenção de R$ 15 bilhões, que, embora tenha superado o pior cenário previsto, ainda está aquém do ideal. O governo terá outras oportunidades para realizar ajustes, como no PLOA (Programa de Lei Orçamentária Anual) no final de agosto, e nos relatórios subsequentes sobre a desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia, que devem ser apresentados até 11 de setembro, além dos relatórios bimestrais de receita e despesa, agendados para 23 de setembro e 22 de novembro.

A questão de como financiar a desoneração da folha, com decisões adiadas para depois, complicou as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A falta de consenso entre o governo e o Senado sobre as propostas para compensar a perda de arrecadação causada pela desoneração em 2024 obrigou a equipe econômica a considerar três cenários possíveis: reconhecer a perda gerada pela desoneração em 2024, incluindo valores de compensação; considerar a renúncia anual do benefício concedido às empresas e municípios, equilibrando uma previsão menos conservadora com medidas como a lei do Carf; ou prever que, sem a compensação aprovada, a desoneração cessará pelo resto do ano.

A discussão ficou só para depois do recesso legislativo, entre agosto e setembro. Essas questões são cruciais, refletindo a complexidade do ajuste fiscal necessário e a necessidade de conciliar diversos interesses políticos. Aguardamos os detalhes para compreender melhor as implicações desses cortes e as estratégias futuras do governo para atingir suas metas fiscais.

· 01:45 — Uma semana ruim depois de algum tempo

Nos EUA, a semana passada foi marcada por uma realização de lucros em alguns dos principais índices. O Nasdaq Composite, por exemplo, terminou a semana com uma queda de 3,7%, após recuar 0,8% na sexta-feira. O S&P 500 acumulou uma queda semanal de 2%.

Em contraste, o Dow Jones Industrial Average, seguindo a tendência de rotação setorial que mencionamos anteriormente, conseguiu um ganho de 0,7% na semana.

Olhando adiante, os resultados corporativos continuarão a influenciar os mercados nesta semana, mas também poderá haver uma reação significativa à primeira estimativa do crescimento do PIB do segundo trimestre, que será divulgada na quinta-feira.

Sobre a temporada, com aproximadamente um quarto das empresas do S&P 500 programadas para divulgar seus resultados do segundo trimestre, representando cerca de 30% do valor de mercado do índice, os próximos dias prometem ser movimentados.

Entre os destaques, temos:

  • SAP e Verizon na segunda-feira;
  • Alphabet, Coca-Cola, General Motors, Lockheed Martin, Tesla e Visa na terça-feira;
  • AT&T e Chipotle na quarta-feira;
  • American Airlines, Southwest Airlines, Stellantis, TotalEnergies e Unilever na quinta-feira;
  • 3M e Charter Communications na sexta-feira.

Se os resultados superarem as expectativas, isso pode melhorar o sentimento dos mercados globais, contribuindo para um cenário mais otimista.

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· 02:39 — Biden desistiu. E agora?

A decisão do presidente dos EUA, Joe Biden, de não buscar a reeleição está dominando as manchetes internacionais. Embora essa informação já fosse amplamente esperada e precificada pelo mercado, as reações agora dependem de possíveis mudanças nas probabilidades políticas.

Portanto, o que realmente importa é: quem os Democratas escolherão como candidato (Kamala Harris, provavelmente); se essa escolha alterará significativamente as propostas políticas (o que é improvável); e se as chances nas eleições presidenciais e parlamentares se modificarão.

Levará algum tempo até obtermos informações concretas sobre esses pontos. 

Em sua carta, Biden fez um agradecimento direto à vice-presidente Harris, expressando seu apoio para que ela seja escolhida em seu lugar. Essa movimentação é uma aposta de que Harris pode energizar a campanha democrata naquela que será a corrida presidencial mais curta da história.

Os doadores democratas parecem estar respondendo positivamente, aumentando a arrecadação para mais de US$ 50 milhões desde o anúncio de Biden na tarde de domingo (21).

Com Harris como a clara favorita para a indicação de seu partido, as atenções se voltam para quem ela escolherá como seu vice na chapa.

Embora eu não acredite que isso mude o resultado esperado de uma vitória de Trump, devemos lembrar que não há certezas, apenas cenários e probabilidades associadas. Dependendo da estratégia eleitoral dos democratas, uma “Onda Republicana” ainda pode ser evitada.

· 03:21 — La Niña

Os mercados emergentes, já pressionados ao longo deste ano, enfrentam uma nova ameaça nos próximos meses: o fenômeno climático La Niña, que poderá elevar a inflação.

O La Niña é caracterizado por temperaturas mais frias do que o normal na superfície do Oceano Pacífico, o que tende a provocar secas na América Latina, impactando negativamente as safras e aumentando os custos dos alimentos. Além disso, esse fenômeno pode intensificar a ocorrência de furacões no Golfo do México, prejudicando a produção de petróleo.

Países como Brasil, Argentina e os da América Central são especialmente vulneráveis a esses eventos climáticos imprevisíveis.

O impacto do La Niña pode ser especialmente severo desta vez, pois ele está programado para ocorrer apenas três meses após o término do El Niño, sendo apenas a terceira vez que essa sequência acontece desde 1950.

Uma transição rápida para o La Niña pode prolongar um período de três anos de inflação elevada, já que os preços dos alimentos e da energia estarão sujeitos a choques de oferta. Esses distúrbios climáticos representam um fator inflacionário significativo que pode retardar os ciclos de flexibilização dos bancos centrais em regiões como a América Latina.

A catástrofe no Rio Grande do Sul e as condições de seca que reduziram o número de navios transitando pelo Canal do Panamá em junho pioram ainda mais a situação. 

· 04:13 — Reduzindo os juros

A decisão do Banco Popular da China de reduzir as taxas de juros em 0,1 ponto percentual parecia inevitável, dada a evidente fraqueza da economia interna, mesmo com base nos dados oficiais. No entanto, essa medida surpreendeu o mercado, que esperava que Pequim priorizasse a manutenção da taxa de câmbio do yuan em vez de adotar novos estímulos monetários.

Hoje, a taxa de juros para empréstimos de um ano foi reduzida de 3,45% para 3,35%, e a de cinco anos, que serve como referência para hipotecas imobiliárias, foi diminuída de 3,95% para 3,85%. Essa mudança ocorreu logo após a Terceira Plenária do Partido Comunista Chinês, realizada na semana passada.

Embora a decisão tenha frustrado as expectativas de um estímulo mais robusto, os líderes chineses reafirmaram seu compromisso em apoiar a inovação, aprofundar a reforma científica e tecnológica, aprimorar o sistema financeiro e promover a modernização do país.

Em particular, o Presidente Xi Jinping apresentou planos abrangentes para reforçar as finanças dos governos locais endividados da China. Esses planos incluem a transferência de mais receitas dos cofres centrais para os cofres locais, permitindo que os governos regionais recebam uma parcela maior do imposto sobre o consumo. No entanto, nada disso foi particularmente revelador ou animador para o mercado.

· 05:08 — Movimentação dentro da Cosan

Recentemente, foi anunciada a aquisição do controle da Compagas pela Compass, subsidiária da Cosan (CSAN3) no setor de gás. A Compagas, operando no Paraná, distribui gás natural encanado por meio de uma rede de 880 km de gasodutos, atendendo 54 mil clientes e distribuindo 821 mil metros cúbicos de gás diariamente.

Para comparação, a Compass distribui cerca de 13 milhões de m³/dia. Esta transação é vista como uma adição valiosa à estratégia de investimento da Cosan, embora haja preocupações sobre o impacto dessa aquisição no plano de desalavancagem da empresa e suas subsidiárias. Seria mesmo o caso?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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