Economia

Taxa Referencial (TR): entenda como é calculada e para que ela serve

A Taxa Referencial é um indexador ainda muito utilizado na correção de contratos e aplicações. Saiba como a Taxa Referencial é calculada e como consultá-la.

Por Equipe Empiricus

12 out 2022, 19:45 - atualizado em 03 dez 2023, 22:29

Imagem representando a Taxa Referencial, mostrando gráficos e uma pessoa calculando valores ao fundo.

A Taxa Referencial é uma referência para o rendimento de muitos investimentos. Assim como a Selic, ela serve como parâmetro de percentual de juros e pode influenciar não só as aplicações, mas também cálculos de remuneração do saldo do FGTS e a atualização de financiamentos imobiliários.

Compreender como essa taxa impacta as aplicações é importante para avaliar se ainda vale a pena utilizá-la nos investimentos.

O que é a TR (Taxa Referencial)?

A Taxa Referencial, também conhecida como TR, é uma taxa de juros de referência para diversas modalidades de investimentos disponíveis no mercado brasileiro. Criada em 1991, a TR está muito presente no cotidiano dos brasileiros, uma vez que é o principal referencial para a poupança.

Além disso, ela também influencia diretamente o rendimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e corrige o saldo de alguns financiamentos imobiliários – especialmente aqueles atrelados a bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal.

A Taxa Referencial impacta as seguintes aplicações:

  • Títulos do Tesouro Direto;
  • Caderneta de poupança;
  • Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS);
  • Títulos de Capitalização;
  • Financiamentos imobiliários do Sistema Financeiro de Habitação (SFH).

Apesar de ainda ser muito utilizada para o cálculo da poupança e na correção do saldo do FGTS, além dos financiamentos e títulos de capitalização, a rentabilidade da TR deixou de ser vantajosa quando comparada com a de outros índices de referência – como a taxa Selic. Explicaremos o porquê mais adiante.

Para que a TR foi criada?

A Taxa Referencial foi criada em 1991, durante o governo Collor, a fim de conter a tendência de indexação dos preços e salários. Naquela época, o Brasil vivia um período de hiperinflação, o que obrigou o governo a rediscutir as políticas monetárias e criar novos mecanismos de controle dos juros na economia.

O projeto da TR foi colocado em prática graças à mudança na forma de calcular a rentabilidade da caderneta da poupança e outras aplicações atreladas a ela. Assim, o indexador serviu como principal recurso de combate à explosão inflacionária do país.

Como a TR é calculada?

A Taxa Referencial é calculada pelo Banco Central do Brasil e divulgada diariamente, apesar de não sofrer grandes oscilações há anos. Desde 2018, a TR passou a ser calculada com base nas Letras do Tesouro Nacional (LTN). A correção dos valores pode ser feita pelo site do BC ou de forma manual por meio da seguinte fórmula:

R = a+b x TBF

Nessa fórmula:

  • R = redutor;
  • a = valor fixo igual a 1,005 (definido na criação da TR);
  • b = depende da Taxa Básica Financeira (TBF) que é divulgada pelo Banco Central.

Após chegar ao valor de R na equação, basta substituir os valores na seguinte fórmula para chegar ao valor da TR: TR = 100 x [ ((1 + TBF)/R) – 1].

Quando o valor equivale a um número negativo, o Banco Central considera que sua somatória final representa zero. Por esse motivo, nunca houve uma tabela de TR com dados negativos.

TR diária e TR mensal

O cálculo da Taxa Referencial é feito diariamente e mensalmente – neste caso, para somar todas as TRs diárias e chegar a um denominador de correção monetária. A poupança, por exemplo, se baseia no cálculo mensal da TR, já que exige que a aplicação seja mantida em conta por pelo menos 30 dias.

Já a TR diária é usada para investimentos de alta liquidez com possibilidade de resgate diário. A taxa, nesse caso, segue o percentual do mês anterior ao solicitado. Porém, esse cálculo é mais utilizado para projeções econômicas, com finalidade analítica.

Em quais ativos a Taxa Referencial é aplicada?

Foi-se o tempo em que a Taxa Referencial era usada como a principal base de cálculo para os investimentos no país, especialmente depois que a Selic ganhou espaço no mercado e passou a rentabilizar melhor. Ainda assim, a TR continua sendo o indexador para alguns tipos de contratos e investimentos no mercado – como é o caso da poupança.

Conheça as principais aplicações afetadas pela Taxa Referencial e saiba como é feito o cálculo de acordo com cada uma delas.

TR na Poupança

A principal aplicação atrelada à Taxa Referencial é a poupança, investimento que ainda é maioria nas carteiras de ativos dos brasileiros. Quando a taxa aumenta ou diminui, ela afeta diretamente o saldo da caderneta.

Atualmente, o cálculo de rendimento da poupança segue o nível dos juros básicos da economia brasileira. Portanto, quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, a poupança paga 0,5% ao mês mais a variação da TR.

Já quando os juros estão abaixo de 8,5%, a remuneração da poupança equivale a 70% da Selic mais a variação da TR. Por isso, ela nem sempre é considerada a melhor aplicação para quem quer rentabilizar e acompanhar a inflação.

Vale lembrar que esse sistema de atualização de acordo com os juros foi implementado pelo Banco Central em 2012. Assim, poupanças que estiverem paradas antes desta data seguem o padrão fixo antigo, que rende 0,5% ao mês mais a variação da TR.

De qualquer forma, mesmo para retornos mensais de 0,5%, a poupança deixou de ser uma aplicação vantajosa para quem deseja mais do que simplesmente guardar dinheiro. A TR não tem tido grande impacto na poupança, uma vez que permanece zerada desde 2017 e foi substituída por outros índices de referência – como a Selic.

TR nos Financiamentos Imobiliários

A TR é utilizada como índice de referência para a correção dos saldos devedores de financiamentos imobiliários atrelados ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Ou seja, aqueles geralmente associados a bancos estatais, como a Caixa Econômica Federal.

No entanto, desde 2018, seu uso deixou de ser obrigatório para a correção de contratos fora desse sistema, como no caso dos financiamentos do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI) – que não têm limites de juros e seguem a política de crédito e autonomia de cada instituição financeira.

Como a indexação da TR costuma ser fixa e previsível, muitos brasileiros optam por realizar financiamentos nessas condições, com o intuito de pagar juros menores ao banco.

TR em Títulos Públicos

Como dito anteriormente, a Taxa Referencial foi um importante elo de correção monetária para o período inflacionário dos anos 1990. Dessa forma, ela também foi adotada como indexador de títulos públicos atrelados à União, chamados de NTN-H e NTN-P.

Esse modelo de título foi descontinuado do mercado, mas ainda há investidores que os têm sob custódia, especialmente aqueles que fizeram aplicações de longo prazo na modalidade.

TR no FGTS

Criado na década de 1960, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) é um direito trabalhista que beneficia todos os trabalhadores de carteira assinada do regime CLT. O valor equivale a 8% do salário mensal bruto e deve ser depositado em uma conta específica pela empresa contratante.

Como esses valores costumam ficar depositados por muito tempo, o governo federal utiliza a TR como referência para corrigir o saldo. Enquanto permanecem depositados, os recursos do FGTS são remunerados e corrigidos de acordo com a Tabela Referencial mais 3% de rentabilidade ao ano.

Como a TR permaneceu zerada de 2018 até 2021, o governo passou a considerar o cálculo de rentabilidade da seguinte forma: 3% ao ano + TR + 50% dos lucros do fundo apurados no ano anterior.

TR nos Títulos de Capitalização

Por fim, outra aplicação que sofre influência direta da Taxa Referencial são os títulos de capitalização. Esses ativos não são necessariamente considerados investimentos, mas ainda assim são oferecidos pelas instituições financeiras como alternativa à poupança e incluem sorteios de prêmios.

Ao contrário da poupança, que oferece correção monetária, os títulos de capitalização seguem apenas a correção da TR. Por isso, é de suma importância conhecer a taxa antes de fechar negócio, uma vez que nem sempre essa é a opção mais rentável para manter o dinheiro atualizado de acordo com a flutuação dos juros da economia brasileira.

Outro ponto negativo dos títulos de capitalização é que os bancos costumam “penalizar” o investidor que resgatar o título antes do vencimento, com multas e desvalorização ainda maior do ativo.

Assim, especialistas apontam outras opções de investimentos como alternativa à capitalização como forma de proteger o patrimônio e ainda atualizar o saldo com base nos juros da economia.

Quais são as alternativas aos investimentos atrelados à TR?

Ao compreender como funciona a Taxa Referencial e suas implicações na economia e sobre os investimentos, é possível estudar alternativas de aplicações com referências de rentabilidade mais vantajosas para o seu bolso.

As principais opções de investimentos seguros e previsíveis estão atrelados à renda fixa. Portanto, esse é o caminho mais pertinente para quem considera criar uma carteira de baixo risco. Conheça as melhores aplicações para quem busca uma rentabilidade maior que a TR:

1. Tesouro Direto

Os títulos públicos seguem sendo as opções de renda fixa mais seguras para quem quer migrar a poupança ou criar uma reserva de emergência. Com a descontinuação do NTN-H e NTN-P, outras modalidades ganharam espaço com investimentos atrelados à taxa Selic e a outros indexadores.

O Tesouro Direto é o principal deles, sendo um dos produtos mais seguros do país. Além de render mais que a poupança, ele permite liquidez diária e correção automática dos juros. Para isso, basta escolher uma das seguintes opções:

As aplicações no Tesouro Direto oferecem diferentes possibilidades de resgate e rentabilidade. Enquanto o prefixado é atrelado a uma taxa fixa, o Tesouro Selic rende 100% da taxa básica de juros, ao passo que o Tesouro IPCA rende acima da inflação.

2. CDBs, LCIs e LCAs

Os Certificados de Depósito Bancário também são opções acessíveis e com rentabilidade previsível que garantem desempenho melhor que a taxa RF. Uma das principais vantagens desse tipo de investimento é a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura até R$ 250 mil em caso de falência dos emissores.

Outras opções de renda fixa úteis para o mesmo propósito são as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que são aplicadas em dois dos principais setores da economia brasileira. Ambas oferecem taxas mais rentáveis que o TR.

Outra vantagem é que esse tipo de aplicação é isento de Imposto de Renda, além de ser mais rentável que a poupança.

Histórico da TR

Desde que foi criada, em 1991, a Taxa Referencial atingiu um patamar impressionante: em seu primeiro ano de performance, rendeu cerca de 355%; no seguinte, 1.156%; e em 1993, atingiu uma alta histórica de 2.474%.O ciclo de alta ocorreu por causa da hiperinflação, que teve fim com a chegada do Plano Real, em 1994.

Depois de um período estável, a TR começou a cair a partir de 1995, perdendo valor à medida que os juros de mercado começavam a se reajustar. A Taxa Referencial se mantinha zerada desde 2017, quando a taxa básica de juros do Brasil era de 1.5% ao ano.

A partir de 2021, com a alta dos juros na economia brasileira e o aumento constante da Selic, a TR voltou a ficar acima de zero. A Taxa Referencial hoje gira em torno de 0,18%, enquanto a TR acumulada dos últimos 12 meses registra 1,17%.

Segue abaixo a tabela da variação anual da Taxa Referencial desde 1991, quando foi implementada:

Ano de referênciaTaxa TR acumulada (%)
2022 – 20211,17%
2021 – 20180,00%
20170,60%
20162,01%
20151,80%
20140,86%
20130,19%
20120,29%
20111,21%
20100,69%
20090,71%
20081,63%
20071,45%
20062,04%
20052,83%
20041,82%
20034,65%
20022,80%
20012,29%
20002,10%
19995,73%
19987,79%
19979,78%
19969,56%
199531,62%
1994951,20%
19932474,74%
19921156,22%
1991335,52%

Segue abaixo a tabela da TR em 2022:

Mês de referênciaTR no mêsAcumulada 12 mesesAcumulada 2022
janeiro0,06%0,11%0,06%
fevereiro0,00%0,11%0,06%
março0,10%0,21%0,16%
abril0,06%0,26%0,21%
maio0,17%0,43%0,38%
junho0,15%0,58%0,53%
julho0,16%0,74%0,69%
agosto0,24%0,98%0,94%
setembro0,18%1,17%1,12%

Qual é a importância da TR na economia?

A Taxa Referencial foi um importante recurso para conter a hiperinflação da década de 1990 no Brasil. A partir disso, ela serviu como base para diversos outros momentos de desequilíbrio na economia nacional, sendo o índice mais relevante do país por ao menos três décadas.

Além de controlar a inflação, a TR foi crucial para estabilizar os benefícios sociais de trabalhadores CLT e reforçar a poupança dos brasileiros. A partir de 2017, entretanto, ela deixou de ser utilizada à medida que o Banco Central passou a considerar a Selic como a principal taxa básica dos juros da economia.

Esse cenário mudou em 2021, quando a Selic voltou a performar acima dos dois dígitos, influenciando positivamente o rendimento dos investimentos de renda fixa. Com isso, a TR saiu do zero em aplicações como a poupança e o FGTS.

De positivo, a TR é uma importante aliada para a redução dos juros de financiamentos imobiliários disponibilizados pela Caixa, afinal sua baixa oscilação permite um cálculo mais previsível das parcelas de um longo contrato de crédito.

Apesar de o Brasil enfrentar algumas altas na inflação, especialistas não acreditam que a Taxa Referencial voltará a performar da mesma forma como na década de 1990, quando ela atingiu a sua máxima histórica. Embora tenha sido importante para instrumentos financeiros muito populares, hoje a TR é preterida por opções mais rentáveis.

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