Mercado em 5 minutos

Ataques de Lula ao Banco Central incomodam Haddad; veja os destaques do mercado nesta terça (7)

Tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro para esta terça-feira (7)

Por Matheus Spiess

07 fev 2023, 08:55 - atualizado em 07 fev 2023, 08:55

Lula x Banco Central - Mercado em 5 minutos
Imagem: Cláudio Reis/Estadão Conteúdo

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam mistos nesta terça-feira (7), acompanhando as movimentações negativas de Wall Street durante o pregão de ontem, já que os investidores continuam cautelosos, se abstendo de criar posições compradas. Consequentemente, em nível internacional, é provável que o mercado fique de olho nos comentários do presidente do Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, na parte da tarde, para obter pistas adicionais sobre as perspectivas de novas altas nas taxas. 

Os mercados europeus e os futuros americanos sobem nesta manhã, também aguardando a participação de autoridades monetárias em diferentes eventos ao longo do dia. A dinâmica brasileira é própria, com o ambiente doméstico muito pautado pela temporada de resultados (temos digestão de Itaú para realizarmos hoje), as eventuais novidades da ata do Copom e a briga entre Lula e Roberto Campos Neto — houve um marginal aprimoramento do sentimento no final do pregão ontem. 

A ver… 

· 00:47 — Rinha de autoridades 

No Brasil, o mercado continua repercutindo os ataques de Lula à postura do BC, tendo aproveitado a posse de Mercadante, ontem pela manhã, para tecer mais críticas, se afastando da própria responsabilidade por termos juros mais elevados (incerteza fiscal e comunicação equivocada vêm estressando o mercado). Não sabemos ainda qual será a resposta formal do presidente da autoridade monetária, mas ele não deve estar nada feliz com a situação (especula-se que possa ceder às pressões). Quem também está incomodado é Fernando Haddad, que entende o confronto em Brasília como contraproducente. Ele está correto. 

O governo deveria estar se esforçando no desenho e na negociação do novo arcabouço, movimento que ajudaria no movimento de queda dos juros. Mas se esqueceram disso. Há algumas notícias de que algumas alas do governo procuram construir uma reaproximação entre o Palácio do Planalto e o Banco Central, contexto fundamental para uma reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) pacífico. Como se não bastasse o problema do déficit público e da falta de perspectiva sobre o substituto do teto de gastos, agora temos que nos preocupar com a comunicação. Tudo isso prejudica a previsibilidade e deteriora ainda mais as expectativas de inflação. 

· 01:42 — No aguardo da fala de Powell 

Nos EUA, os investidores estão esperando um recado mais duro do presidente do Fed, Jerome Powell, que deve destacar a vigilância com a inflação diante da resiliência do mercado de trabalho. Seria interessante ouvir uma avaliação do que o Fed realmente acha que está acontecendo, dadas as mudanças econômicas estruturais, impulsos cíclicos e dados de qualidade inferior. Mas considerando a volatilidade do mercado e os erros de comunicação recentes, talvez Powell opte por uma fala mais conservadora. 

O surpreendente relatório de empregos de janeiro continua a reverberar nos mercados. Por um lado, fala-se sobre a possibilidade de um “soft landing” (pouso suave) e a chance reduzida de recessão. Por outro lado, um mercado de trabalho mais apertado abre espaço para mais aumentos de juros. Ambas as circunstâncias parecem plausíveis, o que dificulta a compra de ações agora — o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou que o Fed tem mais trabalho a fazer. 

Além da fala de Powell, também contamos com os dados de crédito ao consumidor para dezembro do Federal Reserve. Em novembro, a dívida total do consumidor aumentou a uma taxa anual ajustada sazonalmente de 7,1%, para um recorde de US$ 4,76 trilhões. O crédito rotativo (dívida de cartão de crédito) saltou 16,9%, já que as economias da pandemia foram reduzidas para menos de US$ 1 trilhão. Um americano mais endividado gera uma realidade assustadora no meio de juros mais elevados. 

· 02:53 — O balão 

Até pouco tempo atrás, havia alguma esperança de que as tensões entre os EUA e a China poderiam estar esfriando. Tudo mudou por conta de um balão: surgiram relatos de que a China enviou balões de vigilância de alta altitude sobre os EUA que não foram detectados — os EUA derrubaram o balão espião chinês recentemente identificado (pasmem, precisaram usar um caça F-22 para abater o balão). 

Consequentemente, o secretário de Estado Antony Blinken cancelou uma reunião com o presidente Xi Jinping, citando violações à soberania dos EUA. Em resposta, Pequim chamou o uso da força (o caça F-22) de violação das convenções internacionais, insistindo que seu dirigível civil não tripulado estava apenas coletando dados meteorológicos e se desviou do curso devido aos ventos fortes. As coisas estavam melhorando e agora voltamos a caminhar para uma nova crise de longo prazo. 

· 03:40 — E o acordo pós-Brexit? 

Depois que informes afirmaram que a União Europeia (UE) e o Reino Unido (RU) estavam perto de fechar um acordo sobre as regras comerciais para a Irlanda do Norte, Bruxelas anunciou que, apesar de algum progresso, várias questões permanecem intratáveis. O Protocolo da Irlanda do Norte é o acordo que Boris Johnson fez com a UE para evitar a criação de uma fronteira rígida entre a República da Irlanda, um membro da UE, e a Irlanda do Norte, uma parte do RU. O problema é grave. 

Um grande ponto de discordância é que os britânicos querem limitar o papel do Tribunal Europeu de Justiça na supervisão de disputas relacionadas ao comércio. Outro é o fracasso em chegar a um acordo sobre um sistema de fronteira prático que evite verificações rigorosas pela alfândega. Com isso, o novo primeiro-ministro Rishi Sunak, que acaba de completar 100 dias de governo, deverá continuar a enfrentar pressões crescentes para não ceder um centímetro a Bruxelas, gerando mais tensão. 

· 04:10 — Retomando os níveis pré-pandêmicos 

Segundo dados recentemente divulgados pela Associação Internacional de Transportes Aéreos, a demanda global por carga aérea fechou o ano de 2022 com queda de 1,6% em comparação com o desempenho de 2019. A notícia é boa, apesar de ser acompanhada por algumas informações menos animadoras, como o fato de que a capacidade diminuiu 8,2% na mesma janela de comparação. 

Houve uma desaceleração relevante nos últimos dois meses do ano, o que prejudicou bastante o dado consolidado (não fosse isso, talvez já pudéssemos estar em patamares superiores aos pré-pandêmicos). De qualquer forma, em 2023, devemos ter queda marginal da demanda, com declínio adicional nos volumes de carga, uma vez que as principais economias do mundo devem desacelerar. A retomada completa fica para 2024, quando já soubermos melhor quando as taxas de juros vão cair.    

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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