Investimentos

Autoridades do BCE e do Fed discursam nesta terça (2); Campos Neto participa do evento

Nos EUA, começou a divulgação de uma série de dados sobre o emprego, que podem influenciar a curva de juros, já sensível às próximas eleições presidenciais americanas.

Por Matheus Spiess

02 jul 2024, 09:03 - atualizado em 02 jul 2024, 09:03

Jerome Powell Fed Mercado
Imagem: Divulgação/Fed

Bom dia, pessoal. Os mercados internacionais começaram o dia em baixa, com quedas nos principais índices europeus e nos futuros americanos.

Esse cenário contrasta com a situação na Ásia, onde a bolsa de Tóquio se destacou positivamente, subindo mais de 1% e superando a marca dos 40 mil pontos pela primeira vez desde março deste ano.

Esse aumento foi impulsionado pelas ações de empresas financeiras, devido a especulações de que o Banco do Japão possa voltar a elevar os juros após o aumento inicial em março. No entanto, essa tendência de alta não foi uniforme em toda a Ásia, com outros índices registrando desempenhos menos favoráveis.

A atenção do mercado está voltada para os discursos de autoridades do Banco Central Europeu e do Federal Reserve, com destaque para Christine Lagarde e Jerome Powell. Curiosamente, Roberto Campos também participa do mesmo evento e terá uma presença significativa ao longo do dia.

Nos Estados Unidos, começou a divulgação de uma série de dados sobre o emprego, que podem influenciar a curva de juros, já sensível ao contexto das próximas eleições presidenciais americanas.

Além disso, nesta manhã, foi divulgado o índice de inflação ao consumidor na Zona do Euro, que registrou um aumento anual de 2,5% em junho, ligeiramente superior ao de maio. Se essa tendência de moderação da inflação continuar, poderemos observar novos cortes de juros na região nos próximos meses.

A ver…

· 00:57 — Lula deve estar vendido em Real, não é possível

No Brasil, as recentes declarações do presidente Lula têm causado um impacto significativo na economia, contribuindo para a acentuada desvalorização do real. O dólar, que recentemente ultrapassou a marca de R$ 5,65, registrou um aumento de 7,67% no último mês e de 16,48% desde o início de 2024.

As críticas frequentes do presidente ao Banco Central e seus apelos por taxas de juros mais baixas provocaram uma reação adversa do mercado, que agora antecipa um aumento dos juros.

Essas declarações, cujas motivações não estão claras, agravam as preocupações quanto à viabilidade do novo arcabouço fiscal, especialmente diante de projeções de que um PIB inferior a 2,5% ao ano poderia comprometer sua eficácia.

Essa incerteza é refletida no relatório Focus, que ajusta semanalmente suas previsões para um câmbio mais alto, inflação crescente e juros elevados. A desvalorização do real impacta diretamente a inflação, prejudicando desproporcionalmente as camadas mais pobres da sociedade, apesar das alegações do presidente de defender esses grupos.

Além disso, a equipe econômica do governo, que tem estado discreta nas últimas semanas, enfrenta o desafio de implementar cortes orçamentários antes do recesso parlamentar previsto para 18 de julho.

Durante esse período, o Congresso se concentrará em discutir e votar questões críticas, como a reintegração do imposto sobre a folha de pagamento, a regulamentação da reforma do imposto sobre o consumo e a renegociação das dívidas estaduais.

Recentemente, houve uma confusão sobre o impacto da reforma tributária nos fundos imobiliários, prontamente esclarecida pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que descartou tal taxação.

Para garantir o apoio do legislativo, o governo tem acelerado a liberação de R$ 1,4 bilhão diários em emendas parlamentares, buscando cumprir acordos com os congressistas. É crucial que haja cortes de despesas e que o presidente Lula adote uma postura mais conciliadora, reduzindo as críticas ao Banco Central e respeitando sua autonomia.

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· 01:49 — O primeiro dos relatórios

Nos EUA, o S&P 500 conseguiu subir ontem, mesmo com três quartos das ações que o compõem tendo um desempenho negativo. O índice subiu 0,3% no dia, enquanto o ETF Invesco S&P 500 Equal Weight (que pondera nomes como Apple e Microsoft da mesma forma que as demais) caiu 0,8%. Cerca de 382 ações do S&P 500 fecharam em baixa no dia.

No nível setorial, quatro setores registraram alta e um permaneceu estável, enquanto os outros seis principais setores do S&P 500 caíram. Nesse contexto, destaca-se o grupo conhecido como “Magnificent Seven”. Todos os sete integrantes desse grupo subiram no dia, com a Tesla avançando 6,1%. Apple, Microsoft e Amazon.com subiram mais de 2%. A Nvidia teve um ganho de 0,6%, enquanto as ações da Alphabet e Meta subiram 0,5% e 0,1%, respectivamente. De certa forma, o papel que o Brasil desempenha para commodities e bancos, os EUA desempenham para a tecnologia.

Na agenda econômica, os investidores estão atentos ao relatório JOLTS, que trata da Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Trabalho. A expectativa é de que haja 7,9 milhões de vagas de emprego no último dia útil de maio, uma redução de cerca de 150 mil em relação a abril. Este é o primeiro relatório de emprego da semana, que culminará com a divulgação do payroll na sexta-feira, considerado o mais importante da semana. Números em linha, mostrando desaceleração, ou abaixo do esperado, podem aliviar a pressão sobre a curva de juros.

· 02:38 — Já estão precificando as eleições

Historicamente, o mercado começa a precificar as eleições a partir de agosto do ano eleitoral. No entanto, 2024 parece ser uma exceção, ao menos no que se refere aos juros. Isso talvez seja resultado do debate antecipado da semana passada, no qual Donald Trump foi considerado vencedor. Ontem, os juros dos Treasuries continuaram a subir, atingindo os níveis mais altos em cerca de um mês. Esse movimento pode ser atribuído às notícias favoráveis para a campanha do ex-presidente Trump.

A Suprema Corte dos EUA decidiu ontem que Trump tem direito a receber imunidade parcial nos processos judiciais contra ele. Essa decisão, vista como uma vitória para Trump, deve atrasar os julgamentos dos processos, especialmente o relacionado aos protestos de 6 de janeiro, quando seus apoiadores invadiram o Congresso. Embora a decisão não conceda imunidade automática, ela permite que ex-presidentes dos EUA solicitem essa imunidade. Assim, os casos devem retornar aos tribunais de 2ª instância, que precisarão decidir se Trump é imune em cada um dos três processos.

A decisão da Suprema Corte, com uma votação de 6 a 3 alinhada às indicações presidenciais, terá um impacto significativo. A análise é de que as chances dos republicanos conquistarem o controle do Executivo e do Legislativo em Washington aumentaram, o que pode resultar em um potencial aumento do déficit fiscal. Isso seria desfavorável para a inflação e, consequentemente, para os juros, mas não necessariamente negativo para as ações, especialmente se novos cortes de impostos forem implementados.

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· 03:21 — A reunião mais importante do ano… na China

Os altos escalões do Partido Comunista Chinês se reúnem este mês para uma das maiores reuniões anuais do país, abordando temas que vão desde tecnologia de chips até reforma agrária e a renovação da principal fonte fiscal do país. No entanto, não se espera o tipo de mudança política significativa que muitas vezes caracterizou esses encontros no passado. O evento está programado para ocorrer de 15 a 18 de julho, e deverá moldar a política de longo prazo da China.

Este plenário, realizado apenas a cada cinco anos, será observado atentamente por investidores, economistas e diversos outros interessados em busca de sinais de mudanças políticas na segunda maior economia do mundo. Há quatro décadas, a China lançou reformas econômicas pioneiras em uma reunião deste tipo. Em 2013, quando Xi Jinping assumiu o poder, foi o palco para a grande flexibilização da política do filho único, motivada em parte pela preocupação com a escassez de trabalhadores. Em outras palavras, trata-se de um evento de grande importância.

· 04:15 — O mundo precisa de mais bebês

A queda nas taxas de fertilidade tem sido uma preocupação crescente para líderes globais, que temem que o envelhecimento das populações possa reduzir a força de trabalho, agravar a inflação, modificar o padrão de consumo das economias maduras e sobrecarregar os programas governamentais destinados ao cuidado dos idosos. Um estudo recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que o declínio nas taxas de natalidade alterará permanentemente a composição demográfica das principais economias mundiais na próxima década.

Se essas previsões se confirmarem, 2064 será o primeiro ano na história moderna em que a taxa de mortalidade global superará a taxa de natalidade. As principais economias mundiais já estão nessa trajetória: a taxa de fertilidade total entre os 38 países membros da OCDE caiu para apenas 1,5 filhos por mulher em 2022, em comparação com 3,3 filhos em 1960. Isso está bem abaixo do “nível de reposição” de 2,1 filhos por mulher necessário para manter as populações constantes. Isso significa que a oferta de trabalhadores em muitos países está diminuindo rapidamente. Na década de 1960, havia seis pessoas em idade ativa para cada aposentado. Hoje, a proporção está mais próxima de três para um. Em 2035, espera-se que seja de dois para um. Péssimo sinal para o sistema previdenciário global, que precisa de reforma.

Embora a imigração líquida tenha ajudado a mitigar os problemas demográficos enfrentados pelos países ricos no passado, a diminuição da população é agora um fenômeno global. Isso é crucial, pois implica que as economias avançadas podem começar a enfrentar dificuldades para ‘importar’ mão-de-obra desses locais, seja por meio da migração, seja pelo fornecimento de bens. Até 2100, espera-se que apenas seis países tenham crianças suficientes para manter suas populações estáveis: Chade, Níger e Somália, na África, as ilhas do Pacífico de Samoa e Tonga, e o Tajiquistão. Uma mudança de rota é necessária, a menos que a inteligência artificial se torne uma solução viável no futuro, o que ainda é pouco prático nos dias de hoje.

· 05:03 — Será que vale a pena?

Os mercados norte-americanos apresentaram um desempenho positivo ontem, com destaque para as empresas de tecnologia. As ações da Tesla subiram 6,05% em antecipação à divulgação de seu balanço do segundo trimestre. Em análises anteriores, mencionei meu interesse na Tesla, mas também expressei preocupações sobre preço, risco China e a dispersão do foco de Elon Musk entre seus diversos projetos, incluindo o Twitter, que enfrenta desafios financeiros. Apesar disso, Musk obteve uma recente vitória com a aprovação de um pacote de compensação.

A questão é: seria agora o momento ideal para adicionar ações da Tesla ao portfólio?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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