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Bolsas asiáticas sobem e ocidente ainda digere nova política monetária dos Estados Unidos: fique por dentro dos principais destaques desta segunda-feira (23)

Semana começa digerindo resultados do Copom e Fed, enquanto bolsas asiáticas sobem.

Por Matheus Spiess

23 set 2024, 09:18 - atualizado em 23 set 2024, 09:18

Imagem representando a bolsa de valores, mostrando uma imagem geral sobre a Bolsa de Valores de Nova York.

Após uma longa espera, a última quarta-feira (18) trouxe a confirmação de um corte expressivo nas taxas de juros pelo Federal Reserve, que agora se encontram em 4,75%.

O mercado vinha especulando sobre o início do afrouxamento monetário nos EUA desde 2023, mas esse movimento foi sucessivamente adiado. Com a ausência de sinais claros de uma recessão no curto prazo, a redução nas taxas deveria ser vista como um estímulo positivo para os ativos de risco.

No entanto, no Brasil, a dinâmica foi oposta: o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por elevar a taxa Selic em 25 pontos-base, mantendo a porta aberta para novos aumentos até o final do ano. Mas o buraco é mais embaixo. A situação fiscal, que já era um ponto sensível, tornou-se ainda mais preocupante após a divulgação do relatório de receitas e despesas na noite da última sexta-feira (20). Como já enfatizado, o aumento dos juros por si só não será eficaz sem um comprometimento sólido com o equilíbrio fiscal por parte do governo.

Nesta segunda-feira (23), o cenário começou de forma mais tranquila. As bolsas asiáticas registraram alta na maioria dos mercados, impulsionadas pela decisão do Banco Central da China de reduzir a taxa de recompra reversa de 14 dias em 10 pontos-base. No Japão, o mercado permaneceu fechado devido a um feriado nacional.

Já na Europa, os índices abriram de maneira mista, refletindo a queda da atividade empresarial na Zona do Euro em setembro. A crise econômica parece se agravar, com a Alemanha, maior economia da região, enfrentando uma contração ainda mais acentuada, enquanto a França viu uma retração após o breve estímulo gerado pelas Olimpíadas em agosto.

No Reino Unido, os dados econômicos também frustraram as expectativas. Ao longo da semana, o calendário econômico trará discursos de autoridades monetárias e dados sobre atividade e inflação nos EUA, fatores que poderão influenciar os mercados de forma significativa.

A ver…

· 00:55 — O ajuste ficou para o final do ano

Durante o fim de semana, os investidores analisaram minuciosamente o relatório de receitas e despesas do governo, divulgado apenas na noite de sexta-feira. A questão fiscal segue no centro das atenções do mercado doméstico, com o dia começando com uma coletiva de imprensa do Ministério do Planejamento, que vai detalhar o conteúdo do relatório bimestral.

Ainda na sexta-feira (23), antes da divulgação oficial, o mercado já havia demonstrado preocupação com a aparente falta de rigor fiscal do governo, e o relatório apenas reforçou esses receios, evidenciando uma postura mais flexível nos gastos públicos. As receitas continuam superestimadas, enquanto as despesas seguem em alta, mostrando pouca criatividade frente aos desafios orçamentários.

O governo ampliou o bloqueio orçamentário em R$ 2,1 bilhões, elevando o total de R$ 11,2 bilhões para R$ 13,3 bilhões — um valor que ficou abaixo das expectativas do mercado, que previa um bloqueio adicional entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões. Além disso, a equipe econômica reverteu o contingenciamento de R$ 3,8 bilhões, implementado em julho, e planeja contar com R$ 847 milhões adicionais provenientes do Carf entre setembro e dezembro. Com isso, o déficit ficou aproximadamente R$ 500 milhões abaixo do limite inferior da meta fiscal, estabelecida em R$ 28,8 bilhões.

O governo, portanto, adiou as decisões de ajuste mais impactantes para o último relatório bimestral do ano, previsto para 22 de novembro. O descontentamento do mercado, já evidente na sexta-feira, deve persistir, a menos que a coletiva de hoje consiga reverter essa percepção negativa — o que parece improvável, dada a exaustão dos investidores diante das promessas não cumpridas.

A falta de ações concretas e a demora na implementação de medidas necessárias continuam a afetar a confiança do mercado. A postura fiscal mais flexível, por sua vez, sustenta a necessidade de uma política monetária mais rigorosa, com juros altos, o que acaba por frear o desempenho de ativos como as ações. Essa falta de comprometimento fiscal agrava ainda mais a visão negativa dos investidores em relação ao governo.

Embora um desastre fiscal não seja iminente, o cumprimento do novo arcabouço fiscal parece cada vez mais incerto. Setembro, que já costuma ser um mês desafiador, está se revelando especialmente difícil. Podemos estar vendo um novo pico de pessimismo, como observado em outros momentos do ano. Normalmente, é em momentos assim que o governo reconsidera suas políticas, como ocorreu de junho para julho. Além da coletiva de hoje, os resultados do governo central para agosto, que serão divulgados na sexta-feira, trarão mais clareza sobre o cenário fiscal. Um déficit é esperado, e a forma como será tratado será crucial para as próximas expectativas do mercado.

· 01:43 — Que comecem os jogos

Nos Estados Unidos, após uma quinta-feira positiva na esteira do primeiro corte de juros deste ciclo, a última sexta-feira (20) foi marcada por uma volatilidade significativa, em grande parte devido ao vencimento simultâneo de opções de ações, futuros de índices e outros derivados — um fenômeno conhecido como “bruxaria tripla”.

Esse movimento gerou um volume impressionante de negociações, com cerca de 19,8 bilhões de ações trocando de mãos nas bolsas da NYSE, Nasdaq, NYSE American e NYSE Arca. Para efeito de comparação, o volume médio de 2024 tem sido de aproximadamente 11 bilhões de ações por dia. Esse nível elevado de atividade foi notável, especialmente em um dia com poucos relatórios econômicos ou resultados corporativos de destaque.

A decisão do Federal Reserve sobre os juros ainda está sendo assimilada pelos investidores, com debates acirrados tanto entre aqueles que apoiam o corte quanto entre os que o veem com ceticismo. Os comentários das autoridades do Fed alimentaram ambos os lados da discussão. Nesta semana, teremos mais declarações de membros do banco central, o que ajudará a avaliar o tom da política monetária daqui em diante.

Além disso, o Índice de Preços para Despesas de Consumo Pessoal (PCE), a métrica preferida do Fed para medir a inflação, será divulgado. A expectativa do consenso é de um aumento de 2,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Outro ponto importante será a leitura revisada do PIB do último trimestre. 

Com o início do ciclo de afrouxamento monetário, o foco do mercado agora será a formação de expectativas sobre a trajetória futura dos cortes de juros. Mesmo sem uma recessão à vista, a flexibilização deve favorecer ativos de risco ao redor do mundo, oferecendo um cenário mais positivo para os investidores.

· 02:30 — Estímulos?

O Banco Popular da China (PBoC), surpreendeu os mercados neste domingo ao reduzir sua taxa de recompra de 14 dias em 10 pontos-base, poucos dias após frustrar os investidores ao manter inalteradas as taxas de juros de longo prazo. A medida ocorre em um contexto de tensões crescentes, com o Departamento de Comércio dos EUA prestes a anunciar regras que podem proibir o uso de hardware e software de fabricação chinesa e russa em veículos conectados.

Além disso, os planos de expansão do Citigroup na China enfrentam desafios devido a um obstáculo imposto pelos reguladores americanos, após o Federal Reserve penalizar o banco por falhas no gerenciamento de dados e controles de risco. Diante desse cenário, os investidores agora esperam por mais estímulos econômicos por parte da China.

No entanto, ainda não está claro o quão eficaz será a política monetária para enfrentar a atual apatia do consumidor chinês, que parece ser mais influenciada pela incerteza em relação ao futuro do que por uma escassez de crédito. Mesmo assim, essa ação representa um primeiro passo em direção a uma possível mudança de trajetória econômica.

Um pacote de resgate para o setor imobiliário da China pode ser o elemento mais promissor para colocar o país de volta no caminho do crescimento, aproximando-se da meta de expansão de 5%. Para que isso aconteça, é fundamental que esse pacote seja implementado de forma eficiente, especialmente considerando que a crise no setor imobiliário deve persistir pelos próximos cinco anos.

· 03:29 — O clima continua esquentando

O conflito no Oriente Médio intensifica-se, com Israel ordenando ao Hezbollah a evacuação de edifícios e residências usados como depósitos de armas. Essa medida pode ser um prelúdio à retaliação israelense após o lançamento de foguetes pelo Hezbollah no domingo, em resposta ao ataque aéreo de Israel em um subúrbio de Beirute, que resultou na morte de 45 pessoas, incluindo um líder da organização. Enquanto isso, os Estados Unidos alertaram Israel contra uma escalada para uma guerra em grande escala com o Hezbollah, buscando alternativas diplomáticas.

A maior preocupação americana é que o conflito possa se estender ao Irã, dada a aliança entre o Hezbollah e o regime iraniano, adversário dos EUA na região. O presidente Biden sinalizou que continuará pressionando por um cessar-fogo abrangente, especialmente entre Israel e o Hamas. No entanto, quase um ano após os brutais ataques terroristas de 7 de outubro em Israel, a paz parece uma realidade distante. Como reflexo das tensões crescentes, o preço do petróleo voltou a subir.

· 04:18 — Soando os alarmes

O exército de Taiwan informou que, até o momento, o Exército de Libertação Popular da China realizou 2.076 incursões em sua zona de identificação de defesa aérea neste ano, um número recorde que tem gerado preocupação crescente no governo taiwanês. A intensificação das atividades militares chinesas torna cada vez mais difícil distinguir quando essas ações estão no nível de treinamentos regulares, evoluindo para grandes exercícios, ou até para uma possível ofensiva. O ritmo crescente desses exercícios está parcialmente relacionado à eleição do novo presidente de Taiwan, Lai Ching-te, que assumiu o cargo em maio e é visto como tendo uma postura mais favorável à independência da ilha.

Apesar disso, não há indicações de que o presidente chinês, Xi Jinping, planeje uma invasão iminente de Taiwan — muitos analistas acreditam que uma invasão bem-sucedida só seria possível em 2027. Entretanto, a China continua testando tanto suas próprias capacidades militares quanto as de Taiwan, criando incertezas sobre como seria percebido um futuro ataque. Outra possibilidade seria a imposição de um bloqueio naval à ilha, o que teria consequências econômicas globais devastadoras, especialmente pela interrupção do fornecimento de semicondutores produzidos pela TSMC, a maior fabricante mundial de chips e fornecedora essencial de gigantes como Apple (AAPL34) e Nvidia (NVDC34).

A história recente já demonstrou o impacto das interrupções nas cadeias de suprimentos, como foi o caso durante os fechamentos provocados pela pandemia de Covid-19 em 2020, que limitaram a oferta de produtos e elevaram significativamente os preços. Um bloqueio a Taiwan afetaria de maneira crítica indústrias como a de automóveis e eletrônicos. Modelos econômicos sugerem que um bloqueio total de Taiwan, aliado à imposição de sanções ocidentais à China, poderia reduzir o PIB global em cerca de US$ 5 trilhões, ou 5%, no primeiro ano.

O impacto sobre o PIB dos EUA seria de 3,3%, enquanto a economia chinesa sofreria uma queda de 8,9%. Esses cenários, no entanto, não consideram possíveis escaladas militares de Taiwan, dos EUA ou de seus aliados em resposta a uma agressão naval chinesa.

· 05:06 — Eu avisei…

Na semana passada, ocorreu um marco importante para Donald Trump e outros acionistas da Trump Media & Technology Group: o primeiro dia em que puderam vender ações da empresa controladora da Truth Social, após o término do período de lock-up que seguiu a fusão em março com uma empresa de cheque em branco. Embora o ex-presidente, que atualmente concorre novamente ao cargo, tenha afirmado que não pretende vender suas ações, o mercado reagiu com apreensão.

As ações da empresa, negociadas sob o ticker DJT, caíram 7,8% na sexta-feira (20) …

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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