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Dólar sobe na expectativa de novas tarifas sobre a importação de aço e alumínio nos EUA; veja os destaques da semana

Enquanto o mundo aguarda novas tarifas de Donald Trump, o Brasil se preocupa com uma maior desancoragem de expectativas inflacionárias. Confira.

Por Matheus Spiess

10 fev 2025, 09:13 - atualizado em 10 fev 2025, 11:10

BOLSA DE VALORES IBOVESPA AÇÕES

Imagem: iStock/ Darren415

A expectativa central da semana no cenário internacional girava em torno dos dados de inflação nos Estados Unidos, com a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) de janeiro marcada para quarta-feira (12) e, no dia seguinte (13), o índice de preços ao produtor (PPI). No entanto, Donald Trump voltou a dominar as atenções. O dólar iniciou a semana em alta, impulsionado pela ameaça do presidente americano de anunciar ainda hoje (10) a imposição de tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, uma medida que deve impactar diretamente o Brasil, grande exportador desses produtos.

Essa perspectiva já havia pressionado os mercados na última sexta-feira (7) e voltou a assombrar os investidores ao longo do final de semana, materializando-se na manhã desta segunda-feira (10). Diante desse cenário de incerteza e crescente protecionismo, o foco nos dados do payroll acabou ficando em segundo plano. O relatório de empregos dos EUA trouxe números mistos, mas com um viés predominantemente preocupante, reforçando os desafios para o Federal Reserve na condução da política monetária.

Enquanto isso, os mercados asiáticos operaram sem uma direção única, refletindo a volatilidade global. Na Europa, os índices registram leves ganhos, acompanhados de um comportamento semelhante nos futuros americanos, que buscam resistir ao pessimismo gerado pela escalada da guerra comercial. O cenário de tensão também impulsiona os preços do petróleo, que seguem em alta diante das incertezas quanto ao impacto das novas tarifas na economia global.

· 00:56 — O governo parece perdido

Como se a turbulência gerada por Donald Trump já não fosse suficiente, os investidores também precisam lidar com a crescente instabilidade em Brasília, que voltou a preocupar. O presidente Lula, já em campanha, intensificou sua presença na mídia com uma série de entrevistas. Ao falar tanto, porém, inevitavelmente fala bobagem, como na declaração atrapalhada da semana passada, em que sugeriu que os brasileiros simplesmente deixem de comprar produtos caso estejam caros.

Para piorar o cenário, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, alimentou ainda mais a incerteza ao revelar, de maneira precipitada, um suposto plano do governo para reajustar o Bolsa Família como compensação para a alta dos alimentos. A declaração gerou repercussão negativa e obrigou a equipe econômica e a Casa Civil a agirem rapidamente para desmenti-la, mas o estrago já estava feito. O episódio reforça a percepção de que o governo está perdido e, diante da queda de popularidade, pode dobrar a aposta em medidas populistas para tentar se salvar.

A preocupação é evidente: caso essa estratégia se confirme, a tendência é que a desancoragem das expectativas inflacionárias se intensifique ainda mais. Por falar nisso, essa semana traz dados econômicos relevantes, como inflação, vendas no varejo e volume de serviços, que devem calibrar as projeções para a taxa Selic. O governo, por sua vez, segue insistindo na ideia de estímulos ao crédito para driblar o aperto monetário, o clássico cenário de “acelerar com o freio de mão puxado”.

Diante disso, é essencial não se iludir com a recuperação dos ativos brasileiros em janeiro. É verdade que a baixa alocação dos estrangeiros no Brasil cria uma oportunidade de forte valorização caso o fluxo de capitais volte a se direcionar ao país, mas isso não altera o fato de que os problemas estruturais que assustaram o mercado no final de 2024 permanecem inalterados. A volatilidade deve continuar sendo a regra, e qualquer otimismo precisa ser acompanhado de um olhar atento para os riscos fiscais e políticos que ainda pairam sobre a economia brasileira.

· 01:48 — Para onde devemos olhar?

Nos Estados Unidos, pelo segundo final de semana consecutivo, as tensões em torno das tarifas impostas pelo governo voltaram a pressionar os mercados, frustrando as expectativas de uma semana positiva para os principais índices. Os mercados chegaram a reagir com otimismo após a divulgação do relatório de empregos de janeiro, que indicou um mercado de trabalho relativamente estável e uma leve redução na taxa de desemprego para 4,0%. No entanto, esse alívio foi passageiro.

Primeiro, o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan revelou uma queda na confiança, refletindo, em grande parte, preocupações crescentes com os impactos das tarifas sobre a economia. Além disso, a mesma pesquisa apontou um aumento expressivo nas expectativas de inflação, o que contribuiu para a deterioração do humor dos investidores. Depois, o movimento negativo foi intensificado pelas declarações do presidente Donald Trump, que afirmou que anunciaria um novo pacote de “tarifas recíprocas”. A incerteza gerada por essa retórica protecionista adiciona mais volatilidade ao cenário econômico, ampliando os desafios para os mercados.

Por isso, para esta semana, além da expectativa em torno dos dados de inflação e da continuidade da temporada de balanços corporativos, os investidores precisarão acompanhar de perto os desdobramentos da política comercial americana. Como tem sido sua estratégia, Trump segue gerando a maior quantidade de manchetes possível.

· 02:37 — Um olhar sobre as tarifas

Na sexta-feira (7), o anúncio de que Donald Trump planejava impor tarifas sobre as importações de cobre e alumínio pressionou os ativos de risco no final do pregão. No fim de semana, a confirmação dessa medida consolidou o cenário de incerteza, embora parte da reação negativa já tivesse sido precificada pelos mercados na semana anterior. A lógica é clara: tarifas desse tipo são inflacionárias e tendem a desacelerar o crescimento econômico, o que naturalmente pesa sobre ativos de risco.

Os Estados Unidos importam cerca de 80% do alumínio que consomem, e aproximadamente 70% desse total vem do Canadá. Um imposto de 25% sobre o produto teria um impacto significativo nos preços internos, afetando setores que dependem da commodity como matéria-prima. Para Trump, no entanto, essa estratégia comercial é justificada sob os princípios de “justiça” e “reciprocidade”, elementos centrais de seu discurso protecionista. Além disso, a tributação sobre aço e alumínio tem a vantagem de ser menos perceptível para os consumidores finais.

No entanto, a decisão pode gerar impactos diretos para o Brasil, terceiro maior fornecedor de aço para os EUA em 2023, atrás apenas de Canadá e México. No ano passado, os Estados Unidos foram destino de 18% das exportações brasileiras de ferro fundido, ferro e aço. Vale lembrar que, durante seu primeiro mandato, Trump implementou tarifas de 25% sobre as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio, revogando-as posteriormente. Ainda assim, o impacto sobre o setor siderúrgico brasileiro foi significativo, com fechamento de fornos e demissões. Se o novo pacote tarifário avançar, o Brasil pode novamente sentir efeitos negativos.

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· 03:23 — Um fundão

O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o novo Secretário do Comércio, Howard Lutnick, devem apresentar em breve um plano detalhado para a criação do primeiro fundo soberano dos Estados Unidos. Trump deu um prazo de três meses para que a equipe elabore a estrutura do fundo, defina mecanismos de financiamento, estratégias de investimento e um modelo de governança eficiente. Embora a ideia de um fundo soberano seja inédita para o governo americano, diversas nações já operam veículos desse tipo, como Noruega e Arábia Saudita. Além disso, dentro dos próprios EUA, 23 estados mantêm fundos semelhantes, que juntos administram cerca de US$ 332 bilhões em ativos. Um exemplo notável é o Alaska Permanent Fund, que investe as receitas geradas pela exploração de petróleo em ações e outros setores estratégicos.

No caso do fundo soberano federal, os recursos poderão ser direcionados para impulsionar o desenvolvimento nacional, incluindo investimentos em infraestrutura, polos de manufatura e setores críticos para a segurança nacional, como minerais estratégicos, tecnologia de defesa e projetos de fusão nuclear. No entanto, tradicionalmente, fundos soberanos são estabelecidos por países que possuem grandes superávits comerciais decorrentes da exploração de commodities, o que não é o caso dos EUA, que operam sob um persistente déficit. Resta saber como o governo americano pretende estruturar esse novo instrumento de investimento e se ele conseguirá cumprir sua promessa de se tornar um pilar da economia nacional. Se bem-sucedido, poderá representar um novo e poderoso canhão de dinheiro no mundo.

· 04:19 — Quem quer casar?

O número de casamentos na China atingiu em 2023 o menor patamar já registrado, representando um revés significativo para os esforços do governo em conter a crise demográfica que ameaça o futuro da segunda maior economia do mundo. Apenas 6,1 milhões de uniões foram oficializadas ao longo do ano, marcando o nível mais baixo desde que os registros começaram a ser compilados em 1986. O dado é ainda mais alarmante quando comparado ao pico de 2013, quando o volume de casamentos era mais que o dobro do registrado atualmente.

A dificuldade em incentivar o casamento entre a população de 1,4 bilhão de habitantes expõe um grande desafio para Pequim, que já luta contra uma queda acentuada na taxa de natalidade. Em 2023, o país registrou o segundo menor número de nascimentos desde a fundação da República Popular da China em 1949, reforçando um risco estrutural para a economia.

O declínio na força de trabalho, impulsionado pelo envelhecimento populacional e pela baixa taxa de reposição, compromete a capacidade de crescimento do país a longo prazo e amplia a pressão sobre os sistemas previdenciário e de assistência social. Apesar das tentativas do governo de reverter essa tendência — incluindo incentivos financeiros, políticas de apoio às famílias e flexibilização das restrições sobre o número de filhos — a resistência dos jovens a constituir família persiste.

Fatores como insegurança econômica, altos custos de vida, intensa competição no mercado de trabalho e mudanças nas expectativas sociais em relação ao casamento e à maternidade continuam a afastar a nova geração da ideia de formar família. Diante disso, a crise demográfica chinesa se consolida como um dos principais desafios para o crescimento econômico do país nas próximas décadas, colocando em xeque a sustentabilidade de seu modelo econômico e pressionando o governo a adotar medidas ainda mais agressivas para mitigar os impactos desse declínio populacional.

· 05:02 — Até o Japão…

A ameaça de novas tarifas sobre o aço surgiu em meio à incerteza em torno da aquisição da US Steel pela japonesa Nippon Steel, um negócio de US$ 14,1 bilhões que agora enfrenta obstáculos sob a administração de Donald Trump.

O presidente americano já deixou claro que a Nippon pode investir na siderúrgica americana, mas não terá permissão para comprá-la, sinalizando mais um movimento protecionista voltado para a preservação da indústria nacional…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.