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Eleições americanas tiram Copom e Fomc dos holofotes; veja outros eventos importantes na agenda econômica desta terça-feira (5)

A corrida das eleições americanas está extremamente acirrada, o que dificulta uma definição imediata do vencedor.

Por Matheus Spiess

05 nov 2024, 09:01 - atualizado em 05 nov 2024, 09:01

Imagem: iStock/Fabrice Cabaud

As eleições americanas acontecem hoje (5), embora mais de 80 milhões de eleitores já tenham votado antecipadamente. Como temos discutido, a corrida está extremamente acirrada, o que dificulta uma definição imediata do vencedor.

Ainda assim, espera-se que na manhã de amanhã já tenhamos uma ideia mais clara da direção dos resultados — a menos, é claro, que as pesquisas tenham se mostrado imprecisas e um dos candidatos consiga uma vantagem significativa em alguns estados-pêndulo, o que, embora improvável, não é impossível. No melhor dos cenários, o resultado pode ser concluído já na quarta-feira (6); alternativamente, a apuração pode se estender até o final de semana.

Apesar das incertezas, os mercados asiáticos registraram uma terça-feira (5) predominantemente positiva, impulsionados pelos bons dados do setor de serviços na China e pela expectativa de novos estímulos econômicos. Já na Europa, as bolsas operam de maneira mista nesta manhã, enquanto os futuros americanos mostram uma leve alta.

No Brasil, ontem (4), vimos uma leve melhora no humor do mercado em relação à semana passada. Para que esse movimento se sustente, será crucial avaliar o pacote de corte de gastos do governo, onde a magnitude dos cortes fará toda a diferença.

· 00:53 — Estamos aguardando, Haddad

No Brasil, o foco do debate está no aguardado pacote de corte de gastos do governo. Ontem, Lula reuniu-se com diversos ministros em uma longa discussão sobre o tema, o que animou o mercado local.

Como resultado, o dólar caiu, a Bolsa subiu, e os juros recuaram.

Entre as possíveis medidas que circulam, como falamos aqui ontem, fala-se em desvincular receitas e aumentar a participação do Fundeb nos gastos mínimos com educação, atualmente limitados a 30%. Há também expectativas de uma reformulação de programas como o seguro-desemprego e o abono salarial. Uma medida mais ampla, como a desindexação do Benefício de Prestação Continuada (BPC) do salário mínimo — que poderia gerar uma economia de até R$ 1,1 trilhão em uma década, caso fosse corrigido apenas pela inflação — ainda não parece estar nos planos do governo e deve ficar para uma futura administração. Por ora, o governo busca cortes fiscais de pelo menos R$ 30 bilhões, equivalentes a 0,3% do PIB (abaixo do ideal, mas melhor que nada), e há uma chance de que o pacote seja apresentado ainda nesta semana.

Além disso, o mercado se prepara para as reuniões de política monetária do Banco Central do Brasil e do Federal Reserve.

Com uma conjuntura que permanece robusta desde o último encontro — atividade econômica resiliente, um mercado de trabalho forte, inflação acumulada em 12 meses acima do teto da meta, expectativas desancoradas e um cenário externo complexo —, o BC deve optar por acelerar o ritmo de aumento da Selic, elevando-a em 50 pontos-base para 11,25% ao ano.

Ainda nesta semana, teremos a divulgação do IPCA de outubro na sexta-feira (8), com projeção de alta, passando de 0,44% em setembro para 0,59% na comparação anual. Esse avanço será impulsionado principalmente pelos preços de alimentação em domicílio e pelos aumentos nos bens industriais e serviços, reforçando a necessidade de continuidade no aperto monetário nos próximos meses, um processo que dependerá, em grande parte, da evolução do quadro fiscal.

· 01:42 — Alinhamento político

A Câmara deve votar hoje (5) o projeto de lei que define novas regras para o uso das emendas parlamentares. A aprovação desta medida pelo Congresso é vista como essencial para que o pagamento das emendas seja retomado, uma vez que a distribuição desses recursos está suspensa desde agosto, por decisão do STF. Em paralelo, o presidente da Câmara, Arthur Lira, comprometeu-se a aprovar, até o fim do ano, as PECs necessárias para viabilizar o corte de gastos que sustentará o arcabouço fiscal. Essas duas discussões estão naturalmente interligadas com a sucessão de Lira no próximo ano, sendo que o centrão já se articula para reeditar o bloco de apoio que garantiu sua reeleição com 90% dos votos.

Simultaneamente, outros temas importantes estão em andamento, como a Reforma Tributária. Na semana passada, a Câmara concluiu a votação do segundo projeto de regulamentação, que agora segue para análise do Senado. Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, já sinalizou a intenção de votar o relatório do primeiro projeto de regulamentação da reforma no início de dezembro. No entanto, o cancelamento das sessões da CCJ nesta semana por Davi Alcolumbre aperta o calendário legislativo, adicionando mais pressão sobre a agenda de votações.

· 02:38 — Fed convergindo

Nos EUA, esta semana apresenta uma situação incomum em que o foco do mercado está menos voltado para as ações do Federal Reserve e mais intensamente direcionado às eleições. Em um contexto normal, a decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto, programada para quinta-feira (7), seria o grande destaque, mas, desta vez, qualquer movimento no corte de juros deve ficar em segundo plano. A expectativa é que o Fed continue o ciclo de cortes, diminuindo o ritmo para uma redução de 25 pontos-base.

Além do clima eleitoral, a semana reserva mais resultados corporativos, incluindo empresas como Devon Energy, Ferrari, DuPont, Marathon Petroleum, Super Micro Computer, Thomson Reuters e Yum! Brands. Na agenda de indicadores econômicos, temos também o Índice de Gerentes de Compras de Serviços para outubro, fornecendo novos dados sobre o desempenho do setor de serviços.

· 03:25 — Um país dividido

A crise crescente da democracia americana é uma questão estrutural, não apenas um sintoma do vazio de liderança global que tenho discutido aqui. Nas eleições de hoje, o problema vai além de quem será o vencedor; o desafio central é a profunda polarização entre os eleitores, com cada lado rejeitando completamente o outro. A esquerda odeia Trump, enquanto a direita odeia Harris, e isso cria um ambiente sem espaço para diálogo e construção de consenso. Em outras palavras, qualquer presidente eleito começará seu mandato com metade do país o odiando.

O período pós-eleitoral traz riscos, pois quase metade da população, sejam democratas ou republicanos, provavelmente enxergará o resultado como ilegítimo. Isso contribui para a disfunção política americana, agravada pelo fato de estarmos diante de uma possível quarta mudança na liderança da Casa Branca em menos de dez anos — mesmo que Trump retorne ao cargo, ainda representa uma transição de poder. Esse cenário reverbera globalmente, sugerindo que a antiga “nação indispensável” pode estar se tornando uma parceira menos confiável para sustentar a segurança global.

Nesta semana, a política dos EUA nos traz um quadro crítico, com sete estados-pêndulo sendo determinantes para o resultado. Dependendo da margem de vantagem nestes locais, o desfecho pode já estar claro na quarta-feira. Trump é o leve favorito, mas as pesquisas e os modelos indicam uma corrida extremamente acirrada.

· 04:14 — Outras corridas

É importante lembrar que os americanos não estarão escolhendo apenas o próximo presidente, mas também o partido que controlará as influentes casas legislativas — o Senado e a Câmara dos Representantes —, o que terá enormes implicações para a política econômica nos próximos anos. A grande questão é se Kamala Harris ou Donald Trump enfrentarão um Congresso oposicionista, que restringirá sua capacidade de ação, ou um Congresso alinhado, disposto a cooperar. Nos últimos ciclos, o presidente eleito tem assumido com o apoio do partido nas duas câmaras: desde George H.W. Bush em 1989, todos os presidentes começaram seus mandatos com o controle de seu partido sobre a Câmara e o Senado. Esse cenário possibilitou a aprovação de legislações de grande impacto, como os cortes de impostos de Trump em 2017 e a Lei de Redução da Inflação de Biden em 2022.

O controle do Congresso será decisivo para o futuro de trilhões de dólares em cortes de impostos, especialmente porque parte dos cortes instituídos por Trump expiram no ano que vem. No momento, os democratas controlam o Senado, mas enfrentam um desafio para manter essa liderança. A disputa pela Câmara, atualmente liderada pelos republicanos, está acirrada e pode ser decidida em distritos altamente competitivos na Califórnia e em Nova York.

O cenário mais provável sugere que os republicanos consigam vencer no Senado por uma margem estreita, enquanto os democratas recuperariam o controle da Câmara, o que resultaria em um Congresso dividido e dificultaria a aprovação de medidas mais radicais de ambos os candidatos.

O cenário alternativo mais provável é um “Red Sweep” — ou seja, uma vitória republicana tanto na Casa Branca quanto nas duas casas legislativas. Acredito em uma vitória de Trump com o Congresso dividido, mas, como disse, a disputa está acirradíssima.

· 05:01 — A construção civil brasileira

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.