Mercado em 5 minutos

Mercado inicia trabalho com a leitura do IGP-DI, que pode reforçar queda de juros no segundo semestre; veja os destaques desta terça (6)

Caso IGP-DI mostre mais deflação que os 0,99% esperados, ciclo de corte de juros em agosto fica cada vez mais provável. Com ‘fim’ do tema arcabouço fiscal, mercado se volta para a reforma tributária

Por Matheus Spiess

06 jun 2023, 08:58 - atualizado em 06 jun 2023, 08:58

Imagem representando o IGP-DI, mostrando uma pessoa calculando índices e inflação. mercado

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos operaram sem uma direção única nesta terça-feira, à medida que os investidores optaram por realizar parte dos lucros recentes e alguns agentes de mercado avaliaram as chances de o Federal Reserve pular um aumento da taxa de juros neste mês. O desempenho morno veio depois que o avanço global dos ativos tropeçou em Nova York e na Europa na segunda-feira, depois de uma leitura abaixo das estimativas na atividade do setor de serviços dos EUA, sugerindo fraqueza em uma área-chave da economia. Até que saibamos qual será o próximo movimento do Fed na semana que vem, os ativos devem se manter em compasso de espera. 

Os mercados europeus e os futuros americanos começam o dia em queda. Os principais relatórios de inflação dos EUA também devem estar no centro das atenções na próxima semana, já que os dados podem afetar os movimentos do Fed. Paralelamente, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse que as pressões inflacionárias continuam fortes e os juros serão aumentados ainda mais para combatê-las, consolidando as expectativas de outro aumento da taxa de juros na reunião da próxima semana. O resultado da fala foi negativo para ativos de risco. Na agenda, contamos com as projeções do Banco Mundial para a economia global. 

A ver… 

· 00:56 — Um tom mais permissivo 

No Brasil, na véspera do IPCA de maio, a ser divulgado amanhã, os investidores iniciam os trabalhos hoje com a leitura do IGP-DI, que deverá registrar deflação de 0,99% no mês passado. Caso venha até mais profundo do que o esperado, o que não é impossível, teremos mais um reforço para o Banco Central começar a reduzir os juros no terceiro trimestre, com o primeiro corte acontecendo muito provavelmente no mês de agosto. Temos até observado um tom mais ameno do próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que tem acompanhado as boas notícias da inflação e o aprimoramento na percepção de risco fiscal. 

Sobre este tema, cabe comentar sobre as dificuldades do governo diante de um congresso mais conservador. Nesta segunda-feira, por exemplo, o presidente Lula recebeu o presidente da Câmara, Arthur Lira, no Alvorada e, embora descarte uma ampla reforma ministerial, nos bastidores ele reconhece a necessidade de realizar mudanças na equipe para acomodar mais interesses dos parlamentares, com foco principalmente no partido União Brasil. Enquanto isso, Haddad corre para apresentar um programa crível e responsável em termos fiscais para carros populares, em parceria com o ministro de Desenvolvimento, o vice-presidente Geraldo Alckmin.  

· 01:48 — O próximo grande tema: a Reforma Tributária 

Depois da saga do arcabouço fiscal, que está dado como certo pelo mercado, a reforma tributária entra cada vez mais na pauta dos investidores, diante da preocupação com a arrecadação e da janela histórica para discutirmos uma melhora de eficiência tributária no Brasil (já passou da hora, inclusive). Ao que tudo indica, o coordenador do Grupo de Trabalho da Reforma Tributária, deputado Reginaldo Lopes, apresentará hoje o relatório do grupo com as diretrizes gerais do que foi debatido até aqui sobre o tema, a ser devidamente formalizado e lido na Câmara ainda neste mês. 

Será proposta a criação do IVA dual, com uma cobrança realizada tanto pela União quanto pelos Estados e municípios, uma vez que o modelo de IVA simples, arrecadado apenas pela União, foi descartado. Além disso, os deputados irão sugerir alíquotas diferenciadas para setores específicos da economia. O parecer do grupo apresentará as principais diretrizes da reforma, porém, não será a versão final a ser definida pelo plenário, o que está previsto para o final do mês. Outros pontos de interesse incluem a criação de um fundo de desenvolvimento regional (FDR) e quatro regimes especiais. 

· 02:37 — Sobe ou não sobe, eis a questão 

Nos EUA, o índice S&P 500 atingiu um nível chave que teria marcado a entrada em um novo mercado de alta ontem, mas as ações não conseguiram manter o ganho. O índice precisa fechar acima de 4.292,4 pontos para ter subido 20% em relação à mínima de 12 de outubro, definindo um novo mercado de alta. Ele chegou lá nas negociações durante a tarde, mas depois caiu acentuadamente para terminar em queda de 0,2%. 

Apesar das quedas de segunda-feira, as ações mantiveram a maior parte de seus fortes ganhos de sexta-feira, que foram provocados pelo relatório de empregos. O ponto parecia ideal: sem sinais de recessão, mas não tão quentes que o Federal Reserve precise ser mais agressivo com os aumentos das taxas de juros. Existem poucos relatórios de ganhos importantes nesta semana; logo, o foco do mercado deve voltar ao Fed e às perspectivas para a política monetária. 

O comitê de definição de taxas do banco central deve se reunir na próxima semana. Primeiro, investidores e economistas vão dar uma olhada nos dados de inflação de maio na próxima terça-feira. Então, na próxima quarta-feira, 14 de junho, as autoridades do Fed publicarão suas últimas projeções econômicas após o término da reunião de dois dias. Os mercados estão precificando uma chance de aproximadamente 64% de alta na reunião seguinte, de 25 a 26 de julho. 

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· 03:35 — Problemas no universo cripto? Mais ou menos… 

A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) acusou a Binance e seu CEO, Changpeng Zhao, de lidar mal com recursos de clientes, enganar investidores e reguladores e violar regras de valores mobiliários. Em uma queixa de 136 páginas apresentada no tribunal federal dos EUA em Washington, a SEC apresentou uma série de supostas violações contra a maior exchange de criptomoedas do mundo e seu líder, incluindo permitir que americanos abrissem contas e negociassem indevidamente. 

Os preços das criptomoedas caíram com a notícia, com o Bitcoin caindo até mais de 10% nos últimos 30 dias. Desde o ano passado, a SEC vem fechando o cerco com as criptos, mas neste ano ela começou a pegar mais pesado. O órgão parece alinhado no sentido de uma regulação mais apertada, principalmente depois dos escândalos envolvendo a FTX em 2022. O problema é que a SEC pode indicar desenquadramento regulatório, mas ela mesma falha em indicar qual o direcionamento correto. 

Não existe uma regulação, provocando a exigência de algo que a SEC nunca conseguiu oferecer ao mercado. Sabemos que os órgãos reguladores são mais lentos do que o progresso tecnológico, mas aparentemente outras regiões estão mais avançadas do que outras. Provavelmente, teremos um êxodo de empresas dos EUA para outras localidades. Binance, Coinbase e Kraken são exemplos desse movimento. De forma prática, o mal-estar é refletido apenas no curto prazo. 

· 04:39 — Muita neutralidade 

À medida que a rivalidade entre os EUA e a China se aprofunda, muitos países, incluindo aliados próximos dos EUA, deixaram claro que não querem ser forçados a escolher entre as duas maiores economias do mundo — eles estão se envolvendo em uma relação cada vez mais delicada para tentar manter relações construtivas com ambos. Esse ato de equilíbrio complicado tem sido particularmente difícil para países europeus, como Alemanha e França, que compartilham valores e interesses com Washington, mas também se beneficiam muito da integração econômica com a China. 

Enquanto Emmanuel Macron da França adotou uma abordagem mais combativa, dizendo recentemente que seria uma armadilha para a Europa se envolver em crises que não seriam dos europeus, o chanceler alemão Olaf Scholz defendeu vigorosamente uma recente viagem a Pequim com um anfitrião de líderes empresariais alemães, escrevendo que não gostaria de se separar da China — as exportações alemãs para a China triplicaram desde 2000. Bem, mas e os países do Sul Global? 

Muitos países da América do Sul, África e Ásia Central e do Sul se beneficiam de empréstimos e investimentos em infraestrutura sob a Iniciativa do Cinturão e Rota de Pequim, mas também contam com os EUA para garantias de segurança e ajuda. Desde que Pequim expandiu suas iniciativas de infraestrutura para a América Latina, em 2017, os EUA tentaram alertar que é um Cavalo de Tróia destinado a aumentar a influência regional da China, mas Brasil, Argentina, Chile, Equador e outros ainda tentam jogar nos dois lados. Por enquanto, essa abordagem parece estar funcionando. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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