Mercado em 5 minutos

Recuperação econômica? China frustra com queda de dados comerciais e balança mercados globais

Enquanto isso, no Brasil, as expectativas para o IPCA de maio, divulgado nesta quarta (7), são positivas, com altas chances de mais desaceleração

Por Matheus Spiess

07 jun 2023, 09:06 - atualizado em 07 jun 2023, 09:06

inflação chinesa e economia russa desaceleram
Imagem: Unsplash

Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria das ações asiáticas subiu ligeiramente nesta quarta-feira (7). Contudo, os índices Shanghai Shenzhen CSI 300 e Shanghai Composite da China ficaram atrás de seus pares, revertendo os ganhos iniciais, depois que dados mostraram um superávit comercial chinês atingindo seu nível mais baixo desde abril de 2022, impulsionado por uma queda acentuada nas exportações — um  declínio constante nas importações também levantou preocupações sobre o quão sustentável será uma recuperação econômica no país este ano, uma vez que luta com a desaceleração da demanda externa por produtos chineses. 

O tropeço chinês ecoa sobre os mercados globais, com queda nos mercados asiáticos e futuros americanos. Adicionalmente, os investidores permanecem cautelosos e apreensivos com as perspectivas para as taxas de juros, enquanto continuam olhando para a reunião de política monetária do Federal Reserve dos EUA na próxima semana — espera-se que o Fed faça uma pausa em sua recente série de aumentos nas taxas de juros. Os principais relatórios de inflação dos EUA também devem estar no centro das atenções na próxima semana. Por aqui, devemos sentir ao menos parcialmente os problemas com a economia chinesa, na expectativa de que o IPCA de maio salve o dia. 

A ver… 

· 00:52 — Surpresas positivas com a inflação 

No Brasil, apesar da decepção com os dados econômicos da China, há uma expectativa positiva em relação à inflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio. O dado poderá reforçar o otimismo em torno da iminente redução da taxa Selic, com uma projeção de desaceleração para 0,33% na comparação mensal, segundo a mediana das estimativas. 

A redução nos preços da gasolina (a redução de 12,6% no preço da gasolina anunciada pela Petrobras em maio tem o potencial de gerar uma deflação significativa no setor de transporte) e a estabilidade nos preços dos alimentos são apontados como fatores que contribuem para esse alívio inflacionário. No acumulado dos últimos 12 meses, espera-se que o IPCA fique muito próximo (ou até abaixo) da marca de 4%. 

As estimativas para o IPCA variam de 0,24% (mínimo) a 0,45% (máximo). Se o dado vier muito mais fraco do que o esperado, como foi o caso do IGP-DI de ontem, os ativos de risco têm espaço para mais ganhos hoje, digerindo melhor a janela de oportunidade para o início do ciclo de flexibilização da política monetária, mesmo que haja uma aceleração da inflação no segundo semestre (efeito base já precificado). 

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· 01:45 — Preocupações americanas 

Nos EUA, com o teto da dívida resolvido, a crise bancária regional em segundo plano e o Federal Reserve potencialmente pronto para interromper seus aumentos de juros, os investidores estão se sentindo bastante tranquilos. Enquanto os principais índices ficaram pouco movimentados ontem, o Índice de Volatilidade Cboe, também conhecido como “índice do medo”, caiu 5,2%, para 13,96. Esse é o nível mais baixo desde 14 de fevereiro de 2020. Em outras palavras, os investidores estão mais relaxados desde o início da pandemia de Covid-19. 

Não é por acaso que o momento ocorreu poucos dias depois que o governo Biden e os republicanos concordaram em estender o teto da dívida por mais dois anos, tirando uma questão politicamente complicada da mesa até depois da próxima eleição presidencial. E não é por acaso que o relaxamento vem com o Fed aparentemente pronto para pular um aumento da taxa de juros em sua próxima reunião na próxima semana. Então, o que pode dar errado? Bem, o Fed informa os dados de crédito ao consumidor para abril. Eventuais frustrações podem reaquecer o medo de recessão. 

· 02:33 — O novo produto da Apple 

Não se fala noutra coisa. A Apple revelou seu tão esperado headset de realidade mista, testando se os consumidores estão prontos para gastar muito dinheiro em uma tecnologia que a empresa vê como o futuro da computação — foi o primeiro novo produto da Apple desde 2014. A fabricante do iPhone revelou o novo headset Vision Pro em sua conferência anual de desenvolvedores mundiais e disse que custará US$ 3.499 quando chegar às prateleiras no ano que vem. 

O Vision Pro, um “novo tipo de computador” como Tim Cook, CEO da companhia o chamou, se assemelha a um par de óculos de esqui de alumínio e vidro com uma bateria externa conectada por um cabo. Ele possui várias câmeras, sensores e iluminadores em ambos os lados do dispositivo, com duas telas com 23 milhões de pixels cada, mais do que uma TV 4K. A coisa toda é alimentada por um novo chip projetado pela Apple, chamado R1, além do chip M2 encontrado nos MacBooks. Os usuários controlam o dispositivo com seus olhos, mãos e voz. 

Até agora, os investidores estão céticos. As ações caíram para US$ 179,21, no fechamento em Nova York. Ainda assim, as ações da Apple sobem mais de 40% desde o início de janeiro, negociando a 30 vezes os lucros esperados para o próximo ano. A história se repete. Enquanto Cook falava sobre o Vision Pro, as ações da Apple começaram a cair e ficaram negativas no fechamento. A queda das ações continua sendo uma tendência durante a apresentação de produtos da Apple desde 2013. 

· 03:52 — A sombra do dragão 

Do outro lado do mundo, os dados comerciais de maio da China mostraram uma queda bastante grande nas exportações, atribuídas à fraqueza nas exportações para os EUA e o Japão. As exportações chinesas caíram pela primeira vez em três meses em maio, aumentando os riscos na segunda maior economia do mundo, à medida que a demanda global enfraquece. As remessas ao exterior encolheram 7,5% em relação ao ano anterior, para US$ 284 bilhões, enquanto as importações caíram 4,5%, para US$ 218 bilhões. O superávit comercial foi de US$ 66 bilhões. 

Dados recentes mostram que a recuperação da China enfraqueceu. Isso não significa necessariamente um declínio acentuado na demanda global, principalmente porque os padrões de demanda global agora favorecem serviços em vez de bens (a China não é exportadora de serviços). Além disso, houve uma força surpreendente nos números de exportação da China no primeiro trimestre, ajudando a impulsionar os números do PIB. Potencialmente, a força relatada no primeiro trimestre ocorreu às custas dos dados de exportação relatados posteriormente (efeito base). 

· 04:27 — Atritos geopolíticos 

Um fluxo constante de manchetes hoje sugere que um confronto entre a China e os Estados Unidos pôs fim ao que conhecemos como globalização, o fluxo de bens, serviços e dinheiro através das fronteiras internacionais em velocidade e escala sem precedentes. Sim, é verdade que as relações entre China e os EUA estão em seu pior momento desde a década de 1980, sendo que toda vez que parece que as coisas podem melhorar, alguma nova revelação ou provocação faz com que autoridades em Washington e Pequim ameacem algum novo atrito. 

Também é verdade que os EUA e a China estão fragmentando o fluxo da economia globalizada, refazendo as cadeias de suprimentos para reduzir a dependência do outro lado por recursos e produtos críticos onde eles acreditam que uma escassez pode ameaçar sua segurança nacional. Sim, a concorrência no setor de tecnologia, especialmente para produtos como chips de computador, criou uma rivalidade cada vez mais disruptiva. Sem falar da relação dos chineses com os russos. Ao mesmo tempo, os volumes de comércio EUA-China estabeleceram um novo recorde em 2022. 

Nos mais de 10 anos em que Xi Jinping governou na China, a parcela das exportações chinesas destinadas aos Estados Unidos, Europa e Japão quase não mudou. No final do dia, qualquer que seja o atrito entre os dois países, os chineses parecem acreditar que o crescimento econômico é crucial para o futuro da China e que o crescimento econômico depende de relações pragmáticas com os Estados Unidos e seus aliados mais prósperos. É crucial também que outros países ricos continuem vendo a necessidade de fortes relações econômicas com a China; afinal, todos os países podem lucrar com uma economia globalizada. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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