Mercado em 5 minutos

Resultados decepcionantes das Big Techs, declarações de Lula e payroll são pautas do mercado nesta sexta (3)

Tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro para esta sexta-feira (3)

Por Matheus Spiess

03 fev 2023, 09:05 - atualizado em 03 fev 2023, 09:05

mercado em 5 minutos - balanço

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados de ações asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta sexta-feira, acompanhando as movimentações positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, com os investidores ainda se beneficiando de uma reação positiva ao anúncio da taxa de juros do Fed dos EUA — há um certo otimismo de que o Fed esteja chegando ao fim de seu aperto monetário (o que pode ser ansiedade, repito). 

Ao mesmo tempo, os mercados europeus e os futuros americanos devolvem parte dos ganhos nesta manhã, digerindo alguns resultados decepcionantes, em especial de Apple, Amazon e Alphabet, que juntas valem quase US$ 5 trilhões (valerão menos no final do dia). As companhias indicaram que taxas de juros mais elevadas e uma inflação persistente pesaram sobre a demanda do consumidor no quarto trimestre. 

A ver… 

· 00:37 — Por que há tanta insistência em falar bobagem? 

No Brasil, os investidores não digeriram bem a decisão de política monetária do Copom na noite de quarta-feira, preferindo esperar por mais detalhes contidos na ata da autoridade monetária, a ser divulgada na semana que vem. Não acredito mais em revisão para baixo da taxa de juros no terceiro trimestre, como alguns economistas ainda projetam. Quem sabe, no entanto, a depender do novo arcabouço e do comportamento da inflação, possamos debater a queda dos juros até o final do quarto trimestre. 

O problema é que o governo já começou a se mostrar incomodado com o patamar de juros, temendo que atinja em demasia o crescimento. Na verdade, confesso não saber se é desconhecimento (a ala econômica do PT sempre foi bem ultrapassada) ou intencional (jogando para a torcida). Lula voltou a criticar os juros elevados, a meta da inflação e a independência do BC, afirmando que vai avaliar a autonomia quando o mandato de RCN terminar. É um erro grave mudar o entendimento de independência. 

Tanto Lula como a presidente de seu partido, Gleisi Hoffmann, que insiste em comentar bobagens (e errar dados básicos) sempre que pode, parecem desconhecer que este tipo de discurso não ajuda em nada a baixar os juros. Aliás, muito pelo contrário, acaba prejudicando as percepções dos investidores, dando suporte à manutenção de taxas elevadas para ancorar as expectativas. Não há renascimento do PAC ou fala amena de Haddad que reverta isso. Há espaço para repercussão negativa das falas hoje. 

· 01:51 — Reversão 

Lá fora, em dia de entrega de relatório de empregos, os futuros americanos devolvem parte dos ganhos recentes. Em grande parte, a reversão se deve aos resultados abaixo do esperado das gigantes Apple, Amazon e Alphabet — elas caíram bastante no after-hours de ontem e voltam a cair no pre-market de hoje. O movimento se dá depois de as ações de tecnologia realizarem uma recuperação considerável ontem, com o otimismo se espalhando após a última ação política do Federal Reserve (o Nasdaq teve seu terceiro ganho diário seguido, com seu melhor desempenho em um dia desde 30 de novembro). A festa, infelizmente, parece acabar hoje. 

Era muita ansiedade, como estávamos dizendo por aqui. Temos resultados corporativos para revisar, uma recessão para precificar e mais juros para absorver. O mundo não é tão simples como antes. A nova dinâmica exige mais de nós. Para hoje, mais números do quarto trimestre são aguardados, com nomes como Aon, Cboe Global Markets, Cigna, LyondellBasell Industries, Regeneron Pharmaceuticals e Sanofi. Ainda assim, os grandes vetores serão a digestão dos dados de ontem e a apresentação do relatório de emprego (payroll). Espera-se um aumento de 190 mil nas folhas de pagamento não agrícolas, após um ganho de 223 mil em dezembro. 

· 02:52 — O clima europeu 

Assim como nos EUA fizeram na quarta-feira, os europeus também subiram os juros na quinta-feira. O BCE (Zona do Euro) e o BoE (Reino Unido) elevaram suas taxas de juros em 50 pontos-base e sinalizaram mais altas nos próximos meses. A ideia dos ingleses é criar um seguro contra uma inflação inesperadamente alta, apesar de a autoridade monetária acreditar que a inflação caia rapidamente, aumentando a possibilidade de cortes nas taxas até o final do ano. 

Os tons dos comunicados foram considerados duros (hawkish). O BCE parece convicto de que sua próxima elevação também será de 50 pontos, sendo provável que o Banco Central continue elevando as taxas por mais tempo (começou muito tarde). Para hoje, temos por lá a absorção de alguns dados de pesquisas de opinião sobre o sentimento empresarial. A inflação ao produtor europeu foi divulgada e subiu 1,1% em dezembro ante novembro, muito acima da previsão de queda de -0,7%. Pode pressionar a curva. 

· 03:39 — E os chineses? 

Entre as altas e baixas desta sexta-feira na Ásia, os índices de ações chineses caíram depois que foram divulgados dados econômicos mistos levantando algumas preocupações sobre a recuperação econômica neste ano — uma pesquisa privada mostrou que empresas de manufatura de menor escala ainda estavam enfrentando dificuldades diante do aumento de casos de Covid-19 e problemas persistentes na cadeia de suprimentos. 

Ao mesmo tempo, o setor de serviços do país se recuperou acentuadamente em janeiro, após quatro meses de quedas. Sem falar que parte do humor negativo por lá derivou da pressão sobre as empresas de tecnologia, que sofreram com um sentimento não tão bom vindo de resultados trimestrais mistos das principais empresas dos EUA. Continuaremos acompanhando a recuperação chinesa e seu impacto no mundo. 

· 04:16 — EUA e Índia versus China e Rússia 

Sob um novo projeto ambicioso lançado nesta semana, a Índia e os EUA estão unindo forças em uma série de tecnologias avançadas, como semicondutores, inteligência artificial, computação quântica e novas armas — era uma ambição antiga americana atrair os indianos para uma parceria como essa.  

Agora, as preocupações compartilhadas pelas duas democracias sobre a ascensão autoritária da China parecem ter levado as coisas adiante. O novo projeto surgiu como parte de uma estratégia geral para colocar todo o mundo democrático no Indo-Pacífico em uma posição de força. 

Mas a iniciativa não é voltada apenas para a China, uma vez que os americanos também querem substituir a Rússia como um dos maiores fornecedores de armas da Índia, o que seria uma vantagem estratégica e econômica para os EUA, ao mesmo tempo em que desfere outro golpe na economia russa, já fragilizada. 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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