Mercado em 5 minutos

SOPA DE LETRINHAS COM SABOR DE INCERTEZA

“Lá fora, os mercados asiáticos encerraram a sexta-feira (28) em queda, acompanhando as sinalizações de baixo nos EUA durante o pregão de ontem […]”.

Por Matheus Spiess

28 out 2022, 09:25 - atualizado em 28 out 2022, 09:25

Fonte: Free Pik
Bom dia, pessoal.

Lá fora, os mercados asiáticos encerraram a sexta-feira (28) em queda, acompanhando as sinalizações de baixo nos EUA durante o pregão de ontem. Em termos de ambientação, os investidores permanecem pessimistas com as perspectivas para as taxas de juros mais elevadas e uma recessão global. Para piorar, a situação nas cidades chinesas que dobraram as restrições do Covid para deter surtos crescentes também pesou no sentimento do mercado.

Os mercados europeus abrem em queda nesta manhã, assim como os futuros americanos, com destaque especial para os futuros da Nasdaq, que já antecipam a queda das ações de Amazon — no after market de ontem, as ações chegaram a cair 20% depois dos resultados (lembrem-se que a companhia vale 1 trilhões de dólares). Para o dia, os brasileiros ficam cautelosos com o último pregão antes das eleições, enquanto os investidores globais acompanham o dado de PCE nos EUA.

A ver…
00:44 — Reta final eleitoral mais complicada do que pensávamos
Os brasileiros se defrontam com as incertezas da reta final eleitoral. Hoje de noite, contamos com o último debate, na Globo, mas o que chamou a atenção foi a “Carta para o Brasil de amanhã”, de Lula. A notícia chegou a animar o mercado no fechamento de ontem, mas os investidores caíram na real quando leram o material. Apesar do título legal, a carta falha em apresentar um plano crível sobre responsabilidade fiscal (muito marketing e pouco conteúdo). No entanto, alguma sinalização ao mercado é melhor do que sinalização alguma — até porque Lula segue como favorito na disputa.

Outra coisa que deve afetar os negócios por aqui é o resultado da Vale, que não foi bem avaliado pelo mercado. Em NY, as ADRs da companhia caem nesta manhã, sendo que a queda do minério de ferro não ajuda no desempenho do dia. A queda do petróleo, por sua vez, deve atrapalhar a Petrobras, que sofre não só com a ansiedade eleitoral, mas também com o resultado de seus pares gringas, Chevron e ExxonMobil (se vier ruim, o que não acreditamos que seja o caso, poderia poluir o ambiente). A inflação pelo IGP-M também será apresentada hoje, podendo afetar a curva de juros.
01:44 — A queda das Big Techs
Nos EUA, as Big Techs continuam pesando sobre os índices. Várias delas caíram muito esta semana, no que pode ser a pior temporada de relatórios para o grupo na história: Alphabet caiu 9,1%, Microsoft perdeu 7,7%, Meta Platforms despencou 24,6% e Amazon foi desvalorizada em cerca de 15% após o mercado, configurando uma grande perda para hoje (no pre-market a companhia amargura queda de mais de 10% ainda).

O problema da Amazon foi menos com o terceiro trimestre em si e mais com a previsão do management para o que vem a seguir. A receita geral da Amazon chegou a US$ 127 bilhões no período, um aumento de 15% em relação ao ano anterior e no patamar das expectativas do mercado. A desaceleração do crescimento na divisão de computação em nuvem da empresa, Amazon Web Services, chamou a atenção.

Mas o verdadeiro problema era com o guidance. A Amazon disse que espera que a receita do quarto trimestre fique entre US$ 140 bilhões e US$ 148 bilhões, contra os US$ 155 bilhões que analistas previam em média. Isso pode significar um crescimento de menos de 2% na comparação anual. Basicamente, não se trata do tipo de desempenho que a maioria dos investidores espera da Amazon.

A desaceleração do crescimento da AWS, que segue um padrão decepcionante na unidade de nuvem do Microsoft Azure, levantará uma nova questão sobre como a demanda de computação em nuvem se manterá em um ambiente de gastos corporativos em desaceleração. Pelo menos a Apple conseguiu se desvencilhar dessa realidade mais pessimista, tendo superado as expectativas. Ainda assim, as perspectivas para os próximos trimestres não são positivas.
02:52 — E quanto aos dados econômicos?
No exterior, as decisões menos agressivas do Banco Central Europeu e do Banco do Canadá nesta semana reacenderam as esperanças de que os formuladores de políticas monetárias estejam preparando uma redução nos aumentos agressivos das taxas de juros, com todos os olhos voltados para o Federal Reserve na próxima semana — os mercados ainda digerem inflação de países europeus, o que pode contaminar tal otimismo negativamente se vier acima do esperado.

Nos EUA, a combinação de lucros mais fracos e taxas de juros mais altas está fazendo com que as ações de tecnologia pareçam cada vez menos atraentes para os investidores. Hoje, temos um dado econômico importante por lá. O PCE (Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal) é o dado favorito do Fed para balizar sua política monetária e, caso ele venha abaixo do esperado, a tese sobre um Fed menos agressivo até o final do ano pode ganhar força. O contrário também é verdadeiro.
03:41 — Problemas asiáticos
As ações na Ásia não concluíram bem a semana. O pior desempenho ficou por conta de Hong Kong, que caiu mais de 8% em cinco dias, repercutindo a conclusão do congresso do Partido Comunista da China e a manutenção de Xi Jinping no poder — há preocupações de que o controle de Xi sobre o poder na China possa causar mais repressão ao setor de tecnologia e à regiões como Hong Kong e Taiwan.

No Japão, também tivemos perdas no mercado em Tóquio, enquanto os investidores aguardam um novo pacote de estímulo que a mídia local disse que pode valer até US$ 200 bilhões — o governo tenta impulsionar a economia e proteger o país da inflação e do iene mais fraco (a moeda japonesa ainda tenta se recuperar da mínima em mais de 30 anos que atingiu na semana passada) — a manutenção da política flexível do BoJ (Banco Central do Japão) não ajuda.
04:36 — A questão do gás natural
Depois de um verão de alertas terríveis sobre a escassez de energia no velho continente, a Europa tem o problema exatamente oposto em suas mãos: tem muito gás natural.

Pode soar estranho, mas não é.

Dezenas de navios estão esperando para descarregar gás natural liquefeito em instalações de armazenamento europeias, mas não têm onde colocá-lo, uma vez que os estoques estão cheios — os países correram para comprar gás nos últimos meses.

Consequentemente, dada a ampla oferta, os preços do gás natural europeu, que voavam feito um foguete ao longo de 2022, caíram mais de 70% em relação ao recorde de agosto (alguns contratos chegaram a negociar em patamares negativos, como aconteceu com o petróleo em 2020, na falta de lugar para armazenar).

Esta situação é certamente um alívio para os líderes europeus, que temiam que seu movimento para reduzir as importações de gás da Rússia levasse a uma crise de energia no inverno.

Para o inverno de agora parece que a situação foi endereçada, mas o futuro ainda é incerto. No curto prazo, a crise pode ter sido solucionada, mas o problema ainda vive.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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