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Tarifas dos EUA sobre importações do Canadá e México devem começar a valer na próxima semana e Carnaval ‘blinda’ Brasil de estresse global; veja os destaques da próxima semana

Confira os principais eventos que devem abalar a economia brasileira e internacional na semana que vem.

Por Matheus Spiess

28 fev 2025, 09:32 - atualizado em 28 fev 2025, 09:32

BOLSA DE VALORES IBOVESPA mercado (1) europa

Imagem: iStock/ solarseven

Os mercados globais parecem determinados a encerrar fevereiro em um clima de tensão, com investidores digerindo o novo surto comercial de Donald Trump. O presidente americano reafirmou que as tarifas de 25% sobre importações do Canadá e do México entrarão em vigor no dia 4 de março, enquanto os produtos chineses enfrentarão um novo acréscimo de 10% — ou, como ele próprio destacou, “10% + 10%”, dobrando a tarifa anterior. Naturalmente, esse cenário é visto como nocivo para a economia global. As tarifas não apenas representam um risco direto ao crescimento dos EUA, mas também elevam a inflação e aumentam o risco de recessões tanto no México quanto no Canadá. A China, por sua vez, já deixou claro que responderá com todas as medidas necessárias, elevando ainda mais o tom da disputa comercial. Resultado? O mercado está em modo defensivo, refletindo um dia de fortes quedas na Ásia e uma sexta-feira (28) pesada para os ativos europeus e os futuros americanos.

Aqui no Brasil, ficaremos temporariamente blindados do estresse global, já que o Carnaval nos manterá fora do jogo. Mas essa trégua será apenas ilusória. Assim como os líderes europeus estão atentos às tarifas recíprocas que entrarão em vigor no dia 2 de abril, o Brasil também precisa se preparar para possíveis impactos. Quando os mercados locais reabrirem, será necessário um verdadeiro “catch-up” com o desenrolar dos acontecimentos globais. Enquanto isso, em Washington, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky visita a Casa Branca para assinar um novo acordo com os EUA, na esperança de garantir mais apoio na guerra contra a Rússia. Paralelamente, seguem as negociações entre Israel e Hamas para a fase 2 do cessar-fogo em Gaza. Esses eventos acabam funcionando como vetores de redução de risco global, ajudando a aliviar a pressão sobre o petróleo, que caminha para sua primeira queda mensal desde novembro — essa baixa também reflete a incerteza em relação ao crescimento global, às ameaças tarifárias e aos sinais de desaceleração nos EUA.

O Mercado em 5 Minutos retorna na quinta-feira que vem, dia 6 de março.

· 00:53 — Esvaziada(o)

No Brasil, a agenda doméstica está tão vazia quanto a força política do presidente. Sem nenhum gatilho relevante no cenário local, o mercado fica à mercê do ambiente internacional enquanto aguarda — sem grandes expectativas — eventuais novidades de Brasília, que, como manda a tradição nacional, só devem aparecer depois do Carnaval. Ontem (27), o Ibovespa fechou praticamente estável, segurando as pontas mesmo diante do tombo das ações da Petrobras (PETR4), que ainda refletem os péssimos resultados divulgados na noite de quarta-feira. Como já discutimos, os números da estatal acendem um sinal de alerta importante, ainda que parte do impacto tenha sido impulsionado por fatores contábeis relacionados à variação cambial no final do ano passado. No entanto, independentemente da explicação técnica, a percepção do mercado é ruim — e em um governo que parece cada vez mais inclinado a dobrar a aposta em medidas heterodoxas no melhor estilo “Era Dilma”, isso é um problema sério.

A pior notícia para o governo sempre parece ser a próxima. As pesquisas continuam mostrando uma queda consistente na aprovação de Lula, que já ultrapassa os 60% em pelo menos seis Estados. O diagnóstico é claro: a deterioração econômica, a paralisia política e a desconexão com a realidade do brasileiro médio estão cobrando seu preço. Parte dessa crise vem da lentidão do próprio governo. Lula já não tem mais a mesma agilidade política de outrora e sequer consegue conduzir uma reforma ministerial. O Centrão está impaciente, e para piorar, o protagonismo de Gleisi Hoffmann, que deve ganhar uma pasta palaciana, causa incômodo — a presença de uma figura tão estridente da ala política no núcleo duro do governo só aumenta as preocupações.

E como se não bastasse a gestão atabalhoada, o governo continua apelando para paliativos pouco eficazes para tentar conter a inflação e recuperar a popularidade. Agora, estuda reduzir o imposto de importação sobre produtos agropecuários como milho, trigo, óleo de soja e etanol, na ilusão de que isso aliviará os preços dos alimentos e ajudará a recompor o capital político de Lula. Mas sejamos realistas: essa estratégia dificilmente terá qualquer impacto significativo. O que realmente poderia ajudar a controlar a inflação de alimentos seria um real mais valorizado — algo impossível sem um mínimo de responsabilidade fiscal — ou uma safra agrícola excepcionalmente boa, o que está fora do controle do governo. Para complicar ainda mais, a força global do dólar, impulsionada pelas novas ameaças tarifárias de Trump, coloca pressão adicional sobre o câmbio. O caminho até 2026 será longo, acidentado e, ao que tudo indica, trilhado sem a bússola do pragmatismo econômico.

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· 01:41 — Não importa o quão bom seja

Nos EUA, nem mesmo os resultados da Nvidia (NVDC34) foram suficientes para reacender o entusiasmo com o mercado de IA. A gigante da tecnologia superou as expectativas de lucro e indicou que a demanda segue robusta, mas suas ações desabaram quase 9% na quinta-feira (27) — a maior queda pós-resultado desde novembro de 2018. O grande temor? Que, apesar do crescimento ainda expressivo, ele já tenha atingido o pico.

Sejamos diretos: o resultado foi robusto, mas o mercado financeiro, sempre ansioso e repleto de imediatistas, parece ter se lançado numa busca frenética por qualquer sinal de fragilidade para justificar uma realização de lucros. O resultado? O índice Nasdaq, que já vinha tropeçando — com quedas em cinco dos últimos seis pregões —, fechou no menor nível desde novembro. O contraste com 2024 é gritante: no ano passado, investidores não conseguiam conter a euforia com qualquer empresa que prometesse lucros impulsionados pela inteligência artificial. Agora, o jogo virou.

Hoje, porém, os holofotes se voltam para outro tema: a inflação. Em vez de acompanhar balanços corporativos, os investidores estarão de olho no Índice de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) de janeiro, o indicador de inflação preferido do Federal Reserve. Se os números vierem dentro do esperado, pode haver um alívio nas apostas de cortes de juros ainda em 2025. Caso contrário, o humor azedo do mercado deve persistir — e a narrativa da “bolha da IA” ganhará ainda mais combustível.

· 02:38 — The Tariff Man

Trump voltou a chacoalhar os mercados ao reafirmar que as tarifas sobre o Canadá e o México entrarão em vigor na próxima semana, conforme planejado. Os investidores foram pegos de surpresa, pois muitos acreditavam que a medida seria novamente adiada ou, pelo menos, atenuada — afinal, o presidente já havia utilizado tarifas como moeda de troca para arrancar concessões. Para quem ainda nutria esperanças de um recuo, eis a realidade: desta vez, Trump não parece disposto a ceder.

As tarifas sobre importações do México e do Canadá serão de 25%, enquanto as da China enfrentarão um acréscimo de 10% sobre os 10% já anunciados no início do mês. Os mercados, claro, ainda se agarram à possibilidade de uma reviravolta, mas é bom não contar com isso. De acordo com a Casa Branca, a única forma de reverter as tarifas seria se houvesse “progresso real“ no combate ao tráfico de fentanil — medido não por promessas, mas por dados concretos, como redução nas importações ilegais ou nas mortes relacionadas à droga. Em outras palavras, mesmo que Canadá e México tentem negociar um alívio de última hora, suas chances são praticamente nulas.

Como esperado, o clima já começa a azedar nos EUA. Não é só o mercado que está inquieto — os consumidores também sentem a tensão no ar. O receio de preços mais altos e impacto na economia real cresce a cada nova ameaça tarifária. Se Trump buscava reafirmar seu controle sobre o tabuleiro global, conseguiu. Agora, resta saber se a jogada não sairá pela culatra (não sabemos as consequências de longo prazo do isolacionismo americano nos dias atuais e eu temo que o resultado não seja bom).

· 03:26 — Business as usual

Hoje, o líder ucraniano se reúne com Trump na Casa Branca para formalizar um acordo que, na prática, coloca um preço na continuidade do apoio dos EUA a Kiev: o controle de uma fatia generosa das futuras riquezas minerais da Ucrânia. O foco da negociação? Os cobiçados minerais de terras raras, um grupo de 17 elementos essenciais para a produção de armamentos, turbinas eólicas, baterias de veículos elétricos e outros componentes eletrônicos modernos.

Entre os metais mais estratégicos estão neodímio, praseodímio, disprósio e térbio, cujos preços despencaram no último ano devido à queda na demanda por veículos elétricos. Até os anos 1990, os EUA lideravam a produção global dessas matérias-primas. Hoje, a China domina cerca de 70% da extração bruta e quase 90% da capacidade de refino. E Pequim não hesita em usar essa posição como arma geopolítica: em 2010, por exemplo, cortou as exportações de terras raras para o Japão e já ameaçou fazer o mesmo com os Estados Unidos em diversas ocasiões.

O problema? A Ucrânia, apesar de ter reservas, mal explora esses minerais atualmente. Além disso, parte desses depósitos está justamente no leste do país – território atualmente ocupado pela Rússia. E é aqui que o jogo de Trump começa a ganhar forma: ao garantir o controle dessas riquezas sob um acordo de segurança, ele busca enfraquecer a influência chinesa, consolidar um novo fluxo de fornecimento estratégico para os EUA e, de quebra, pressionar Moscou no território ocupado. 

· 04:15 — E o que fazer com a Rússia?

Se o acordo de paz realmente sair do papel e Trump conseguir recuperar parte do território ucraniano (o que, sejamos francos, dificilmente incluirá tudo), qual será o próximo passo? Uma reabilitação gradual da Rússia na comunidade internacional? Tudo indica que sim. Os russos já estão, discretamente, tentando seduzir empresas americanas a retomarem operações no país, três anos após a invasão da Ucrânia.

Trump, que recentemente quebrou com os aliados europeus para negociar diretamente com Vladimir Putin, revelou esta semana que as conversas entre Washington e Moscou não se limitam apenas ao campo diplomático, mas também envolvem oportunidades econômicas. E Putin, claro, entendeu o recado. Em um movimento oportunista, já acenou com vantagens para empresas americanas que toparem voltar, oferecendo participação em projetos estratégicos de mineração e produção de alumínio na Rússia. 

O problema? As empresas que abandonaram a Rússia às pressas em 2022 perderam bilhões e muitas delas tiveram ativos confiscados pelo governo russo. Ou seja, não será tão fácil convencê-las a voltar para um mercado que já as queimou antes. Mesmo que Trump consiga suspender as sanções contra Moscou, nada garante que as relações entre EUA e Rússia não irão azedar novamente. No fim, qualquer tentativa de reintegração será um processo longo, turbulento e sujeito ao imprevisível fator Putin.

· 05:03 — Reindustrialização

Está cada vez mais evidente que Trump não está apenas blefando quando fala em tarifas. Seu objetivo final, como já discutimos, é claro: impulsionar a reindustrialização dos Estados Unidos a qualquer custo. Nesse cenário, algumas oportunidades de investimento continuam chamando minha atenção, especialmente após a volatilidade recente, que pode ter criado pontos de entrada interessantes…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.