Investimentos

Ibovespa registra correção aos 129 mil pontos e expectativas recaem sobre os juros nos EUA: veja o que movimenta o mercado nesta quarta-feira (17)

Analista macroenocômico da Empiricus analisa o cenário do dia, com a divulgação do Livro Bege nos EUA.

Por Matheus Spiess

17 jul 2024, 09:26 - atualizado em 17 jul 2024, 09:31

ações: quais as 10 maiores altas do Ibovespa no primeiro semestre de 2023
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Os mercados americanos continuaram em alta na terça-feira (16), alcançando novos recordes, enquanto o mercado brasileiro enfrentou uma correção, a primeira em muito tempo. No cenário internacional, o foco principal ainda está na expectativa de cortes na taxa de juros nos EUA, bem como nas eleições americanas.

Hoje, teremos declarações de autoridades monetárias e a divulgação do Livro Bege, que apresenta avaliações e projeções dos diferentes distritos da autoridade monetária dos EUA. Esses dados podem influenciar as apostas sobre o início do ciclo de flexibilização monetária esperado para setembro (não acredito em corte em julho). Nesse contexto, os futuros americanos estão em queda nas primeiras horas desta quarta-feira.

Na Europa, os principais índices estão em baixa nesta manhã. A inflação de junho no Reino Unido ficou amplamente conforme o esperado, mas isso não garante que o ciclo de flexibilização da política monetária seguirá linearmente no país. Na zona do euro, a inflação anual desacelerou ligeiramente, registrando 2,5% em junho.

A maioria das ações nas bolsas asiáticas caiu nesta quarta-feira (17), com as maiores perdas concentradas em Taiwan e na China, após o candidato presidencial republicano dos EUA, Donald Trump, afirmar que Taiwan deveria pagar aos EUA pela defesa. Na China, o principal impacto negativo veio das ações de empresas petrolíferas e de alumínio, que sofreram quedas significativas nos pregões de Xangai e Shenzhen.

A ver…

· 00:58 — Não podemos correr o risco de voltarmos a falar bobagens

No Brasil, a terça-feira (16) marcou a primeira correção após uma sequência de onze pregões consecutivos de alta, embora o índice Ibovespa ainda se mantenha acima dos 129 mil pontos. Essas correções são partes naturais do processo de recuperação do mercado e até bem-vindas, pois ajudam a manter um movimento saudável, permitindo ajustes nas posições e a realização de lucros.

No entanto, um dos fatores que contribuíram para a recente queda foi uma declaração controversa do presidente Lula. Durante uma entrevista à TV Record, ele afirmou que precisa ser convencido da necessidade de cortes ao ser questionado sobre a possibilidade de contingenciar R$ 20 bilhões do orçamento para cumprir as normas do arcabouço fiscal.

O ministro Fernando Haddad teve que intervir para contextualizar e amenizar os impactos dessa declaração. Às vésperas do recesso legislativo, é crucial evitar deslizes.

Os investidores aguardam a divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas, previsto para o dia 22, que indicará se haverá bloqueios ou contingenciamentos necessários para assegurar o cumprimento da meta fiscal deste ano. Um pente-fino nos benefícios? Veremos.

Na esfera política, o foco está em Brasília, onde há uma corrida contra o tempo para aprovar diversas pautas legislativas antes do início do recesso parlamentar, marcado para quinta-feira (18/07). Com o prazo estabelecido pelo STF terminando nesta sexta-feira, o governo e o Senado continuam negociando um acordo sobre as medidas compensatórias para as desonerações das folhas de pagamento do setor privado e dos pequenos municípios.

Sem um acordo estabelecido até o momento, Edson Fachin, que está de plantão no STF durante o recesso judiciário, atendeu aos pedidos da AGU e do Senado, prorrogando o prazo para 11/09. O impasse entre o Congresso e a equipe econômica não se restringe apenas à questão das desonerações, mas também envolve o debate sobre a dívida dos estados.

O Ministério da Fazenda está desenvolvendo novas medidas para aumentar a arrecadação em R$ 20 bilhões, embora esteja claro que a população rejeita novos aumentos de impostos, ao ponto de o ministro Haddad se tornar alvo de piadas nas redes sociais por conta disso. Esse clima de incerteza é prejudicial para o mercado, apesar dos recentes sinais positivos.

· 01:41 — E essa reforma tributária?

Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou o primeiro projeto de regulamentação da Reforma Tributária do Consumo, que estabelece a Lei Geral do IBS, da CBS e do Imposto Seletivo. O texto passou por modificações significativas, incluindo a adição de vários itens na Cesta Básica, como farinhas de todos os tipos, óleo de milho, aveia, carnes, queijo e sal. Além disso, definiu-se uma alíquota de 0,25% para o Imposto Seletivo sobre minério de ferro e incluiu-se o carvão mineral na lista de itens sujeitos ao Imposto Seletivo.

O projeto também ampliou o mecanismo de cashback para cobrir 100% da CBS em serviços essenciais como água, energia elétrica, gás natural e esgoto, e estabeleceu um teto para a alíquota padrão do IVA (combinando IBS e CBS) em 26,5%, válido a partir de 2033. Caso esse limite seja ultrapassado, o Executivo deverá ajustar os itens ou profissões com alíquotas reduzidas.

O projeto segue agora para o Senado, onde a tramitação deve ser mais lenta, pois passará pela análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de ir ao Plenário. Existe a preocupação de que a discussão possa ser adiada para depois das eleições ou até mesmo para o próximo ano. Enquanto isso, na Câmara, a votação do segundo projeto de regulamentação foi adiada para agosto.

Bernard Appy, secretário-extraordinário de reforma tributária no Ministério da Fazenda, enfatizou a importância de o Congresso concluir a aprovação da regulamentação ainda este ano. No entanto, a política brasileira tem seu próprio ritmo, especialmente quando muitos interesses estão em jogo. Aprovar a regulamentação este ano permitiria que 2026 fosse o ano de teste da nova sistemática tributária. Quanto mais cedo a reforma for implementada, melhor.

Embora a direção geral da reforma seja adequada, os parlamentares aprovaram mais exceções do que a equipe econômica havia previsto. A trava de alíquota máxima foi bem recebida, embora haja dúvidas sobre sua viabilidade prática, pois o impacto total das recentes mudanças ainda não foi completamente avaliado pela equipe econômica.

Com tantas modificações, existe o risco de que a reforma perca sua neutralidade fiscal, o que seria especialmente problemático para um país que já enfrenta desafios fiscais significativos.

· 02:35 — Novos patamares

Nos EUA, o índice Dow Jones Industrial Average destacou-se ontem, subindo 1,8%, registrando seu melhor dia em mais de um ano. Esse desempenho foi impulsionado por ganhos acima do esperado da UnitedHealth, a empresa com maior peso no índice, cujas ações subiram 6,5%.

Outros destaques nos relatórios de lucros incluíram o Bank of America, Charles Schwab e Morgan Stanley. O S&P 500 também teve um bom desempenho, subindo 0,6%. Como resultado, tanto o Dow quanto o S&P 500 atingiram recordes históricos de fechamento.

Outro fator positivo foi o Amazon Prime Day, que teve um impacto significativo, considerando que quase 70% do PIB dos EUA é impulsionado pelos gastos dos consumidores. Um aumento melhor do que o esperado nas vendas em julho pode ter um impacto significativo na economia do país. Nunca subestime o poder do consumidor norte-americano.

Na agenda de hoje, esperamos mais resultados corporativos importantes, incluindo ASML, Citizens Financial Group, Crown Castle, Discover Financial Services, Johnson & Johnson, Prologis, United Airlines e U.S. Bancorp. Entre os indicadores econômicos, destacam-se os novos dados de construção residencial para junho e o quinto Livro Bege do ano, que reúne informações sobre as condições econômicas dos 12 bancos regionais do Fed.

Além disso, teremos os dados de produção industrial de maio. Caso esses dados desacelerem ou sejam mais fracos do que o esperado, a tese de um corte de juros em setembro fica fortalecida, o que seria positivo para os ativos de risco.

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· 03:37 — Trump 2.0: o problema fiscal

Uma carta circulando entre os democratas no Capitólio apelou ao Comitê Nacional Democrata (DNC) para adiar a votação virtual programada para o próximo domingo, que decidirá sobre a indicação de Joe Biden para concorrer à reeleição presidencial. O desespero palpável entre os democratas é amplificado por projeções que sugerem uma possível vitória esmagadora de Trump nas próximas eleições. Desde o atentado, o mercado tem mostrado uma expectativa crescente de um segundo mandato para o republicano, levantando preocupações, especialmente no âmbito fiscal.

Os cortes de impostos de 2017, que Trump planeja expandir juntamente com novas reduções tributárias, provavelmente levarão a um aumento significativo dos déficits fiscais. Isso fortaleceria o dólar e aumentaria os yields dos títulos do tesouro. Para compensar a queda na receita, a equipe de Trump propõe taxar importações, uma medida que, além de ser potencialmente inflacionária, parece insuficiente para mitigar o aumento da dívida. Um mundo de mais inflação e mais juros, portanto.

De acordo com a Comissão de Orçamento, os déficits estão projetados para crescer em US$ 400 bilhões somente este ano, com a dívida nacional podendo atingir até US$ 23,6 trilhões na próxima década. Para enfrentar esses desafios fiscais, o governo precisaria escolher entre aumentar a arrecadação através de novos impostos ou realizar cortes significativos nas despesas, especialmente em programas como Medicare e Previdência Social.

Considerando o histórico de Trump, favorável a cortes de impostos, é provável que sua administração opte por uma estratégia fiscal arriscada. Assim, aqueles que esperam responsabilidade fiscal da parte de Trump devem reconsiderar suas expectativas, visto que tanto ele quanto Biden mostraram tendências de aumentar a dívida pública, ainda que por vias distintas.

· 04:13 — O bom posicionamento da América Latina

A América Latina está em uma posição estratégica para se beneficiar das transformações estruturais que estão remodelando a economia global, como o redesenho das cadeias produtivas, a transição energética e o avanço da inteligência artificial. No entanto, para aproveitar plenamente essas oportunidades emergentes, os países da região precisam investir significativamente em infraestrutura crítica. Essa análise é compartilhada com Axel Christensen, estrategista-chefe da BlackRock para a região.

O Brasil, em especial, mostra-se promissor para capitalizar a crescente demanda por insumos necessários à eletrificação da economia e à transição para práticas mais sustentáveis.

Entretanto, o Brasil ainda enfrenta desafios imediatos que podem comprometer sua competitividade em relação a outros países. Desde o início do ano, houve uma certa deterioração nas condições econômicas do país. Apesar dessas adversidades, muitos investidores internacionais, incluindo a BlackRock, continuam a ver a maior economia da América do Sul bem posicionada para aproveitar essas mudanças estruturais.

Nos próximos meses, questões políticas continuarão a ser observadas de perto pelos investidores, com potenciais impactos em toda a América Latina. Além disso, as próximas eleições nos Estados Unidos poderão reconfigurar o cenário geopolítico, especialmente no que diz respeito às relações com a China, um parceiro comercial crucial para o Brasil.

Esses eventos poderão definir novos contornos para as interações econômicas e políticas na região.

· 05:09 — O presidente cripto

Como discutimos anteriormente, Donald Trump é amplamente visto como um presidente ideal para o mercado de criptomoedas. Ele se comprometeu a desburocratizar o setor, oferecer incentivos fiscais e acelerar a aprovação de legislações que garantam segurança jurídica para empresas e trabalhadores.

O aumento de sua popularidade reforça as expectativas…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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