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Pacote de corte de gastos a ser definido e bolsas europeias em queda: veja os principais eventos desta sexta-feira (8)

Os mercados globais exibem uma dinâmica distinta das duas últimas sessões nesta manhã. A Europa e os EUA operam em queda, enquanto o Brasil espera definições de um pacote de gastos.

Por Matheus Spiess

08 nov 2024, 09:26 - atualizado em 08 nov 2024, 09:26

Imagem: iStock/asbe

Os mercados globais exibem uma dinâmica distinta das duas últimas sessões nesta manhã. Na Ásia, a semana terminou sem uma direção clara, com os investidores na China aguardando o anúncio de novos estímulos econômicos, que chegou a US$ 1,4 trilhão na manhã de hoje, como uma resposta antecipada às possíveis tarifas adicionais sobre as exportações chinesas pelo novo governo dos EUA

Na Europa e nos Estados Unidos, tanto os índices acionários quanto os futuros operam em queda nesta manhã. No Reino Unido, o Bank of England (BoE) adotou uma postura mais cautelosa em relação a futuros cortes de juros, alinhando-se às declarações de seu presidente, que demonstrou relutância em retornar a patamares de juros extremamente baixos. Essa abordagem, que sucedeu um corte de 25 pontos-base, similar ao ajuste recente realizado pelo Federal Reserve (Fed), sinalizou uma orientação mais conservadora em comparação ao tom mais flexível do Fed.

No Brasil, o mercado continua voltado para o aguardado pacote fiscal, cuja definição prolongada mantém os investidores em um cenário de expectativa e incerteza.

· 00:55 — Novela Mexicana (Brasileira)

No contexto econômico brasileiro, a longa novela em torno da proposta de corte de gastos segue se arrastando, gerando efeitos adversos sobre o ambiente econômico.

Ontem (7), mais um episódio se desenrolou: após uma reunião prolongada, nenhuma decisão conclusiva foi alcançada, e uma nova rodada de negociações foi marcada para hoje (8) à tarde. A presença de ministros de pastas essenciais, como Educação, Saúde e Trabalho, trouxe um tom de otimismo, sugerindo que as medidas poderiam ser abrangentes e afetar áreas sociais importantes do lulismo, o que ajudaria a estabilizar o câmbio.

Entretanto, a demora nas definições pode sinalizar fortes resistências a certos aspectos do plano econômico. Relatos indicam que o pacote poderá ser menos ambicioso do que o esperado, com cortes sendo reduzidos ainda antes de sua apresentação formal, em função de concessões já realizadas pelo ministro Haddad nas negociações. A péssima comunicação e a amplificação dessas informações confusas pela mídia alimentam um clima de incertezas prejudicial ao cenário econômico.

No mercado financeiro, o momento exige prudência; é mais sensato esperar os anúncios formais do governo do que reagir a rumores e especulações. O ajuste fiscal é uma necessidade evidente, e o governo Lula está ciente disso, ainda que evite tratar o tema publicamente (ele não pode ser visto como fiscalista pelo seu eleitorado). Aliás, a profundidade das medidas fiscais a serem anunciadas será determinante não só para o mercado, mas também para as futuras decisões do Banco Central. Um ajuste fiscal robusto em novembro poderá definir se a Selic subirá 50 ou 75 pontos-base em dezembro, além de ajustar as expectativas para o ciclo de política monetária completo. Um plano abrangente poderia manter a taxa Selic em torno de 12,5%, enquanto um pacote mais fraco pode elevar essa taxa para 13,5%.

Sobre o tema, inclusive, o foco também recai sobre o IPCA de outubro, para o qual se espera uma alta de 0,54% no mês, em comparação a 0,44% em setembro. A inflação acumulada em 12 meses deve subir de 4,42% para 4,72%, ultrapassando o teto da meta anual. No entanto, o mercado segue atento ao desfecho da novela fiscal em Brasília, aguardando ansiosamente por uma definição concreta.

· 01:41 — O otimismo está preservado

Nos EUA, os índices de ações alcançaram novos recordes ontem, impulsionados pelo aguardado corte de juros promovido pelo Federal Reserve e pelas reações à recente eleição. Assim, o otimismo pós-eleitoral manteve-se forte pelo segundo dia consecutivo.

No âmbito monetário, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) decidiu por uma nova redução na Fed Funds Rate, ajustando-a em 25 pontos-base e posicionando a taxa básica de juros na faixa de 4,5% a 4,75%. Destaca-se que, após um voto dissidente da governadora Michele Bowman em setembro, o comitê optou de forma unânime pelo corte mais moderado, uma decisão amplamente antecipada.

As atenções voltaram-se, portanto, para a coletiva de Jerome Powell, na qual, apesar das expectativas por alguma mudança de tom, suas declarações mostraram pouca variação. O mercado gostou da postura “dovish”. Powell ressaltou uma melhora nas condições do mercado de trabalho desde o início do ano e, em relação às eleições, adotou uma postura responsável, sinalizando ao mercado que continuará focado em seu mandato, sem ceder a eventuais pressões de Trump. É provável que Trump expresse insatisfação com o ritmo dos cortes, mas deve evitar intervenções diretas.

A expectativa para os próximos meses é de mais um corte de 25 pontos-base ainda neste ano, com uma possível continuidade do ciclo de flexibilização ao longo de 2025, adotando uma frequência intercalada de cortes, isto é, em reuniões alternadas.

· 02:37 — Trump afetando o Brasil

As políticas comerciais de Trump têm gerado intenso debate quanto às suas possíveis consequências para o Brasil, mesclando desafios e oportunidades. Com a reeleição de Trump, projeta-se um cenário global mais rigoroso para o Brasil, caracterizado por um crescimento do protecionismo, aumento das pressões inflacionárias e tendência de elevação dos juros internacionais. Esse contexto reforça a urgência de um ajuste fiscal sólido no Brasil, essencial para aliviar as pressões sobre as expectativas de câmbio e juros. Ao mesmo tempo, medidas protecionistas americanas poderiam tornar alguns produtos brasileiros, especialmente os agrícolas, mais competitivos globalmente, o que representaria uma vantagem importante.

Além disso, a vitória de Trump pode servir como impulso para o otimismo entre os partidos e as bancadas de direita no Brasil. A eleição de líderes com ideologias alinhadas historicamente gera um efeito de mobilização e entusiasmo nesses grupos, fenômeno que costuma influenciar o cenário eleitoral subsequente. Em 2016, por exemplo, a eleição de Trump em novembro veio após um movimento ao centro e à direita nas eleições municipais de outubro no Brasil.

Observamos uma dinâmica semelhante nas eleições municipais de 2020 e 2024, com um movimento de inclinação ainda mais à direita. Agora, com a mudança política nos EUA, é possível que o Brasil também experimente um novo deslocamento político à direita em 2026, como venho destacando. Isso pode abrir caminho para um governo brasileiro mais orientado a políticas pró-mercado e fiscalmente responsável.

· 03:24 — O governo alemão está colapsando

Após o colapso da coalizão governamental na Alemanha, o chanceler Olaf Scholz anunciou que governará o país com um governo minoritário. A crise começou com a demissão de Christian Lindner, do Partido Democrático Liberal (FDP), substituído por Jörg Kukies, conselheiro econômico de Scholz, que agora assume o Ministério das Finanças. A saída de Lindner marca o rompimento formal do FDP com a coalizão, que agora será composta apenas pelos social-democratas e o Partido Verde, tornando-se minoritária, portanto.

Este é mais um episódio de instabilidade política na Europa.

Friedrich Merz, líder dos democratas-cristãos, exigiu a convocação de novas eleições. Scholz, por sua vez, indicou que não pretende convocar um voto de confiança antes de 15 de janeiro, sugerindo que tentará sustentar seu governo até, pelo menos, uma provável eleição antecipada em março. Um novo pleito, neste momento, pode facilitar o retorno dos democratas-cristãos ao poder (eles o deixaram com a saída de Angela Merkel). Essa instabilidade política na Alemanha deixa uma lacuna significativa na resposta europeia a seus múltiplos desafios, agravada pela perspectiva de um retorno de Trump à presidência dos EUA. Questões tarifárias e a Ucrânia são centrais.

· 04:16 — O pacote veio

A China anunciou um robusto pacote fiscal de 10 trilhões de yuans (equivalente a US$ 1,4 trilhão) para sustentar sua economia, que enfrenta sinais de enfraquecimento, enquanto o país se prepara para um cenário de intensificação nas tensões comerciais com os EUA sob o governo de Donald Trump. O plano autoriza governos locais, já altamente endividados, a emitir 6 trilhões de yuans em novos títulos ao longo dos próximos três anos e permite a realocação de outros 4 trilhões em títulos previamente planejados, distribuídos ao longo de cinco anos, para reestruturar suas finanças. 

No entanto, as autoridades não incluíram medidas diretas para estimular a demanda doméstica, o que frustrou as expectativas de mercados que esperavam um pacote mais voltado ao consumo. O renminbi reagiu ao anúncio com uma desvalorização acentuada frente ao dólar americano. Pequim, por sua vez, afirmou estar “analisando” medidas adicionais, que podem incluir a recapitalização de grandes bancos, aquisição de propriedades inacabadas e incentivos ao consumo. 

Ainda assim, a China enfrenta desafios internos urgentes, como a prolongada crise imobiliária, que vem afetando duramente as finanças das famílias e dos governos locais. Esses fatores precisam de atenção antes que as tarifas de Trump impactem ainda mais seu setor externo. Estima-se que, se totalmente aplicadas e sem contramedidas da China, as tarifas americanas possam reduzir o PIB chinês em alguns pontos percentuais, em um momento em que sua economia já se encontra vulnerável.

· 05:09 — Melhor do que o esperado

O mercado local reagiu de forma positiva aos resultados do terceiro trimestre divulgados ontem, com destaque para a Petrobras (PETR4), que superou as expectativas.

As ações da companhia registraram alta no pré-market, sinalizando um dia promissor na bolsa brasileira e potencialmente contribuindo para a valorização do índice ao longo do pregão. Após um ano de desempenho estável, a questão que surge é sobre a pertinência de manter as ações da Petrobras em carteiras domésticas.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.