Mercado em 5 minutos

China parece enfrentar uma crise de dívida similar à da Evergrande no mercado imobiliário; entenda

Além disso, no Brasil, o mercado aguarda dados de serviços divulgados pelo IBGE e a participação de Campos Neto numa discussão sobre inflação no Senado.

Por Matheus Spiess

10 ago 2023, 08:59 - atualizado em 10 ago 2023, 08:59

China PIB mercado
fonte: Unsplash

Bom dia, pessoal. No cenário internacional, os índices asiáticos apresentaram predominantemente quedas nesta quinta-feira, seguindo o declínio das ações em Wall Street ontem, enquanto os investidores se preparam para o aguardado relatório de inflação nos Estados Unidos (que se espera acelerar em julho na comparação anual).

A inflação dos preços ao produtor no Japão desacelerou em julho, de acordo com as expectativas, porém, as preocupações em relação à inflação na China permanecem significativas. De fato, a desaceleração nos gastos dos consumidores e as altas taxas de juros continuam sendo questões importantes para a economia global.

Enquanto isso, nos mercados europeus, o dia começou com ganhos, e os futuros americanos também apontam para um cenário positivo. Além dos dados de inflação, os investidores estão ansiosos para o boletim econômico do Banco Central Europeu, a fim de compreender a perspectiva da autoridade monetária sobre a situação econômica da região.

Uma outra notícia que chama a atenção é o anúncio do governo dos Estados Unidos, que está detalhando novas restrições para investimentos em tecnologia na China.

Em relação à situação local, estamos atentos a possíveis desenvolvimentos na política monetária.

A ver…

· 00:43 — Vai ser agressivo ou não?

No Brasil, os olhos do mercado estão voltados para os dados de serviços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além dos resultados empresariais. A expectativa é de que o volume de serviços prestados tenha registrado um crescimento de 0,4% na comparação mensal em junho, o que representa uma desaceleração em relação ao desempenho observado no mês anterior.

É bem conhecido que o setor tende a enfrentar mais desaceleração na segunda metade do ano, uma vez que está absorvendo os efeitos tardios da política monetária contracionista que foi implementada.

Apesar da relevância desses dados, a atenção está voltada para a participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em uma audiência no Senado para discutir sobre a inflação.

É importante destacar que essa será a primeira vez que a autoridade monetária se manifestará publicamente desde a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada.

Em outras palavras, esta audiência pode proporcionar uma visão mais clara de sua percepção sobre a trajetória futura da taxa Selic (geralmente ele adota uma abordagem mais conservadora em suas declarações públicas). Para os próximos encontros do Copom, o mercado está antecipando cortes de juros de magnitude igual, o que levaria a taxa para 11,75% até o final do ano. No entanto, a ata da reunião deixou em aberto a possibilidade de uma aceleração no ritmo de corte (condicionada a dados econômicos).

Se o Copom optar por uma abordagem mais agressiva, isso pode se tornar um fator de impulso para que o índice Bovespa supere novamente a marca dos 120 mil pontos. Por esse motivo, os números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho possuem tamanha importância.

· 01:50 — Um cenário ainda otimista para o crescimento brasileiro

No relatório anual recentemente publicado sobre a economia brasileira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apresenta estimativas do ritmo de expansão potencial do PIB desde o ano de 2003.

Esse ritmo é aquele pelo qual a economia pode crescer de forma sustentável sem gerar pressões inflacionárias. Entre 2003 e 2008, a média desse crescimento foi de 4,1%, sendo impulsionado por um nível elevado de investimento e uma taxa de desemprego em declínio. Importante notar que o ritmo de expansão potencial diminuiu após a crise financeira global, situando-se em uma média de 3,3% entre 2009 e 2013. Isso ocorreu devido à redução no crescimento do investimento e na taxa de emprego, apesar da queda na taxa de desocupação.

O potencial de crescimento econômico sofreu uma queda ainda mais acentuada após a crise econômica durante o governo de Dilma Rousseff. Entre 2014 e 2019, a taxa se limitou a apenas 0,1%, principalmente devido à diminuição dos investimentos e a uma notável deterioração do mercado de trabalho. Desde então, o crescimento potencial começou a se recuperar, atingindo uma média de 1,3% ao ano e alcançando um intervalo de 1,3% a 2,2% em 2022. Essa reversão é algo extremamente positivo para o país, que enfrentou uma década de notável estagnação econômica. Caso continuemos a verificar revisões positivas, os ativos podem reagir bem estruturalmente.

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· 02:46 — O que os preços ao consumidor mostram nos EUA

Nos Estados Unidos, as ações tiveram outro desempenho desapontador ontem, em grande parte devido à deflação observada na China — é importante lembrar que os preços ao consumidor na China registraram uma queda de 0,3% na comparação anual, marcando a primeira leitura negativa desde fevereiro de 2021 (os preços ao produtor já estão em declínio desde o final do ano passado). Hoje, porém, a inflação que ganha maior relevância não é a chinesa, mas sim a americana. O relatório mensal sobre os preços ao consumidor dos Estados Unidos será divulgado na manhã de hoje e terá um papel fundamental em moldar o debate sobre a política do Federal Reserve nas próximas semanas.

Os investidores já não esperam que o banco central dos EUA continue elevando as taxas de juros, após ter aumentado sua taxa de referência em julho para o nível mais alto em 22 anos. Um conjunto adicional de dados moderados sobre a inflação serviria para reforçar essa perspectiva. A estimativa média é que o índice de preços ao consumidor suba 3,3% na comparação anual, enquanto o núcleo, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, é esperado para se situar em 4,8%. Isso se compara aos ganhos de 3,0% e 4,8%, respectivamente, registrados em junho. Possíveis surpresas nos números terão um impacto significativo sobre os ativos financeiros globalmente.

· 03:39 — A força do barril

As cotações do petróleo registraram um aumento significativo nesta quarta-feira (9), impulsionadas pela preocupação de que um agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia possa levar a uma redução ainda maior na oferta em um mercado já estreito.

O contrato de referência Brent, utilizado como indicador pela Petrobras, atingiu o valor de US$ 87,55 por barril, o nível mais alto em quatro meses, enquanto o WTI, referência nos Estados Unidos, alcançou US$ 84,40 por barril, o preço mais elevado desde novembro de 2022.

Essa tendência de alta está relacionada principalmente a uma limitação na oferta. Recentemente, houve indicações de que os ucranianos poderiam permitir ataques de navios e portos russos no Mar Negro, incluindo embarcações que transportam petróleo para a Europa, em resposta a ataques russos contra a infraestrutura de armazenamento de alimentos da Ucrânia. Paralelamente, os dados de estoque nos Estados Unidos também contribuíram para fortalecer o mercado petrolífero. Para os meses que se aproximam, espera-se que o valor da commodity permaneça elevado, o que pode complicar ainda mais a situação da inflação global.

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· 04:20 — Mais problemas com a China

Os Estados Unidos esclareceram as restrições referentes aos investimentos no setor tecnológico da China, com indícios recentes sugerindo que o Reino Unido também pode aderir a essas restrições. Isso é mais uma manifestação do movimento de desglobalização, caracterizado pela interferência política no comércio global e nos fluxos de capital.

As limitações impostas pelos EUA aos investimentos na China são parte de um esforço para conter a capacidade do país asiático de desenvolver tecnologias militares e de vigilância avançadas que possam representar uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos.

Para aumentar a complexidade do cenário, uma crise de dívida comparável à situação da Evergrande parece estar se formando na China.

A empresa Country Garden, liderada por uma das mulheres mais ricas da China, Yang Huiyan, deixou os investidores nervosos, uma vez que detentores de títulos em dólares afirmaram que ainda não receberam pagamentos de cupons com vencimento na última segunda-feira. Isso coloca a empresa no caminho para um possível calote público, a menos que efetue os pagamentos dentro do período de carência de 30 dias.

Uma situação de inadimplência afetaria consideravelmente o mercado imobiliário chinês, talvez até mais do que o colapso da Evergrande, já que a Country Garden possui quatro vezes mais projetos imobiliários.

Nos últimos anos, as autoridades chinesas têm se esforçado para corrigir os excessos do setor imobiliário antes que isso cause um impacto substancial na economia como um todo. Entretanto, esses esforços podem ter sido insuficientes, dadas as vendas de imóveis que estão declinando em meio a uma série de desafios enfrentados pelas empresas imobiliárias nos mercados de crédito.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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