Mercado em 5 minutos

O bull market brasileiro está de volta com 20% de alta, enquanto EUA e China podem vir a disputar Taiwan; confira este e outros destaques desta segunda (12)

Além disso, o mercado aguarda, nesta semana, dados de inflação dos EUA e reuniões do banco central americano. Na China, em quase todas as métricas, as coisas já pararam de melhorar e estão começando a piorar; entenda

Por Matheus Spiess

12 jun 2023, 08:56 - atualizado em 12 jun 2023, 08:56

bull market

Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas subiram, acompanhando os ganhos nos EUA no final da semana passada, enquanto os investidores se preparam para uma semana repleta de decisões sobre taxas de juros dos principais bancos centrais (teremos encontro das autoridades monetárias dos EUA, da Zona do Euro e do Japão). Por sinal, sobre o movimento do Fed, o aumento dos pedidos iniciais de auxílio-desemprego reforçou as esperanças de que o Fed irá interromper seus aumentos de juros. Neste momento, a curva indica uma chance implícita de quase 80% para a manutenção dos juros. 

Os mercados europeus e os futuros americanos sobem nesta manhã, mas o mesmo não pode ser dito das commodities, que enfrentam uma maior dificuldade neste início de semana depois do Goldman Sachs dar uma opinião negativa sobre o petróleo. Fora as reuniões de política monetária, ainda contamos com os dados de inflação nos EUA, que podem abalar as expectativas para as próximas reuniões do Fed. Além disso, também precisamos ficar de olho na China, que pode optar por uma redução das taxas de juros para estimular suas economias.  

A ver… 

· 00:43 — Bull market 

Na sexta-feira da semana passada (9), depois do feriado, nos encontramos novamente com um patamar que não nos encontrávamos há muito tempo. O Ibovespa superou os 117 mil pontos. Isso representou uma alta de 20% desde o piso verificado no dia 23 de março aos 96.996,84 pontos, quando o Banco Central endureceu seu tom e mostrou que não iria flexibilizar só porque o governo estava fazendo birra. Desde então, a inflação deu sinais de desaceleração significativa e o governo conseguiu uma aprovação do arcabouço fiscal na Câmara, fatores que melhoraram o ambiente entre os investidores e possibilitaram o fluxo que vimos até aqui. 

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A expectativa de um iminente corte da taxa Selic, juntamente com a aposta na pausa do Federal Reserve e as expectativas de estímulos da China são os principais impulsionadores do atual rali nos mercados. Claro, não podemos relaxar, uma vez que ainda precisamos ver o arcabouço aprovado no Senado e as discussões formais sobre a Reforma Tributária, que até podem começar neste mês, mas que só serão concluídas no segundo semestre. Para o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), agendado para a próxima semana (dia 21), os investidores aguardam o primeiro sinal de corte da taxa Selic, previsto para ocorrer em agosto. 

· 01:34 — Um agro avançado e produtivo 

Ainda em solo brasileiro, ficamos recentemente surpresos com um dado de PIB muito melhor do que o esperado, como já conversamos aqui. A melhor parte foi que, de acordo com elementos no interior do dado, o crescimento não tem caráter muito inflacionário, não se tornando um impeditivo para o BC reduzir a Selic no terceiro trimestre. Outro destaque foi o desempenho fenomenal do agro brasileiro. Aliás, um diferencial da agropecuária de ponta brasileira é o investimento em pesquisa e desenvolvimento, fundamental para o desenvolvimento de longo prazo. Tudo isso é possível graças a um ciclo colaborativo entre empresas e universidades. 

O resultado dessa dinâmica é um aumento significativo na produtividade no campo. Entre 1975 e 2018, a agropecuária brasileira registrou uma taxa média de crescimento de produtividade de 3,36% ao ano, superando as taxas da China, da Austrália e dos EUA. Paralelamente, em 20 anos, a safra de grãos aumentou 258% para 310,6 milhões de toneladas por ano. Ao mesmo tempo, a área plantada passou de 43,7 milhões para 76,7 milhões de hectares, um salto de 76,5%. Esses dados demonstraram o impulso expressivo do setor agrícola brasileiro e o papel fundamental da pesquisa e colaboração entre universidades, empresas e propriedades rurais nesse progresso. 

· 02:22 — Sem cortes nesta semana 

Nos EUA, a semana é relevante nos dados econômicos e nas frentes políticas. Os investidores enfrentarão os principais dados de inflação e reuniões do banco central, além de outros lançamentos econômicos e de lucros. Na frente principal, os mercados financeiros se concentram na decisão política do Federal Reserve de quarta-feira, com expectativas de uma pausa para avaliar os danos da contração monetária realizada até aqui. Os mercados futuros estão precificando de forma esmagadora uma pausa. 

Além disso, o Escritório de Estatísticas do Trabalho deverá relatar o índice de preços ao consumidor de maio na terça-feira, seguido pelo equivalente ao produtor na quarta-feira. As estimativas de consenso são de aumentos de 4,2% e 1,5%, respectivamente. Por fim, ainda contamos com o índice de otimismo para pequenas empresas, na terça-feira, os dados de vendas no varejo, na quinta-feira, e o índice de sentimento do consumidor, na sexta-feira. Será uma semana emocionante. 

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· 03:10 — Atingindo o pico 

A ascensão da China nos últimos 40 anos foi excepcional. O país contou com uma combinação entre sorte e fatores irreplicáveis que estão rapidamente se transformando em ventos contrários. Em quase todas as métricas, as coisas já pararam de melhorar e estão começando a piorar para a China. A desaceleração chinesa é estrutural. 

À medida que a China enriquecia, sua força de trabalho se tornava mais cara, diminuindo a atratividade do país como a “fábrica do mundo”. O crescimento oficial do PIB já havia caído para 6% antes de 2019, apesar do estímulo do governo mascarar um crescimento mais fraco, e três anos de pandemia só pioraram a situação. 

Não só o crescimento desacelerou a cada ano por uma década, mas o mais importante, a qualidade do crescimento da China se deteriorou. A infraestrutura foi construída para estimular o crescimento, com dezenas de “cidades fantasmas” equipadas com novos prédios de apartamentos, estradas e pontes, mas sem pessoas.  

Enquanto isso, o sistema político fechado da China e as preferências econômicas de Xi Jinping impedem a inovação tecnológica, o motor mais confiável do crescimento de longo prazo. Muitos dos melhores e mais brilhantes da China já deixaram o continente para ambientes mais acolhedores, levando seu talento e capital com eles.  

· 04:06 — EUA x China em Taiwan 

Os EUA e a China podem já estar travando uma Guerra Fria que pode acabar se tornando uma guerra quente por causa de Taiwan. Para muitos, a questão não é se, mas quando Xi Jinping decidirá invadir a ilha. Talvez 2025, especialmente se um candidato pró-independência vencer a eleição presidencial de Taiwan no ano que vem e o presidente dos EUA estiver distraído com a própria eleição. 

Independentemente disso, anexar Taiwan à força seria uma grande aposta para a China. Xi sabe que não importa o quanto a China aumente os gastos com defesa, suas forças armadas não são testadas em combate desde 1979, quando perdeu uma guerra de fronteira com o Vietnã. Além disso, o líder chinês provavelmente está tendo dúvidas após a resposta ocidental à guerra da Rússia na Ucrânia. 

Se você acha que a guerra na Ucrânia afetou a economia global, uma luta entre EUA e China por Taiwan seria muito pior, uma vez que a ilha é uma superpotência na fabricação de semicondutores, e o possível impacto nas cadeias de suprimentos globais é completamente desconhecido. Sabemos apenas que será devastador em vários sentidos. É melhor o mundo já começar a se preparar. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.

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