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Repercussão dos resultados da Petrobras (PETR4), Nvidia (NVDC34) e recentes ameaças comerciais de Trump; confira os destaques do mercado nesta quinta-feira (27)

Investidores internacionais reagem à nova ameaça comercial de Donald Trump, que agora mira a UE com tarifas de 25%. Leia mais.

Por Matheus Spiess

27 fev 2025, 09:19 - atualizado em 27 fev 2025, 09:19

Nvidia (Imagem: Reprodução)

Nvidia (Imagem: Reprodução)

Os investidores internacionais reagem à mais recente ameaça comercial de Donald Trump, que agora mira a União Europeia com tarifas de 25% sobre carros e outros produtos. E não para por aí: as tarifas retaliatórias devem entrar em vigor já em 2 de abril, com Canadá e México de volta ao radar das tensões comerciais. Se você acompanhou o primeiro mandato de Trump, nada disso é novidade. O rei das manchetes precisa manter seu nome nos holofotes e alimentar o mercado com uma enxurrada de declarações diárias. Nos resta discernir entre ruído e sinal.

Além disso, o humor dos investidores ainda é impactado pela digestão do resultado da Nvidia (NVDC34). A gigante dos semicondutores chegou a cair no after hours de ontem (26), mas tenta ensaiar uma recuperação no pre-market desta manhã. O problema? Apesar de prever vendas de US$ 43 bilhões para o primeiro trimestre, superando ligeiramente as estimativas, a empresa alertou que as margens de lucro bruto serão mais apertadas do que o esperado, esfriando parte do entusiasmo com a IA. A empresa segue forte.

O resultado? Um mercado global sem direção definida. As bolsas asiáticas operaram de forma mista, enquanto as europeias amanhecem no vermelho. E a agenda de hoje não ajuda muito: temos a revisão do PIB do quarto trimestre nos EUA, aquecendo os motores para o PCE de janeiro, que sai amanhã. Já no Brasil, além da crise política, com Lula flertando abertamente com o populismo, os investidores ainda precisam digerir o péssimo resultado da Petrobras (PETR4), um lembrete incômodo do desastre econômico do final do primeiro mandato de Dilma: se parece com um pato, nada como um pato e grasna como um pato, então provavelmente é um pato…

· 00:57 — Sombras de 2014

A derrocada da Nvidia no after-hours de ontem foi dura, mas nada se compara ao tombo de 7% das ADRs da Petrobras, após a estatal entregar um prejuízo — em vez do lucro esperado — e anunciar que não pagará dividendos extraordinários. A pancada foi forte, e embora o pre-market sugira um alívio parcial, o estrago já foi feito. Os números falam por si: R$ 17 bilhões de prejuízo no quarto trimestre, Ebitda 30% abaixo do esperado e um resultado consolidado do ano cerca de 70% menor que 2023. Sim, há um componente contábil nessa equação — a variação cambial das dívidas com subsidiárias no exterior pesou no balanço —, mas, no fim do dia, o efeito negativo para a percepção do mercado é o mesmo.

A dívida líquida da Petrobras subiu para US$ 52,2 bilhões, um aumento de 16,9% em relação ao terceiro trimestre e 18,1% na comparação anual. A dívida bruta fechou em US$ 60,3 bilhões, ainda abaixo do teto de US$ 75 bilhões do plano estratégico 2025-2029, mas o suficiente para acender alertas. O fantasma da gestão desastrosa do PT na era Dilma Rousseff voltou a assombrar a empresa. O paralelo é inevitável: o cenário ainda não é o mesmo do que foi no auge do intervencionismo petista, mas, diante de um governo disposto a dobrar a aposta no populismo para conter a queda na popularidade, o mercado precifica o risco.

A ansiedade pelo resultado da Petrobras, somada à retórica populista de Lula e ao Caged muito acima das expectativas, pressionou a curva de juros e o câmbio, com o dólar voltando para R$ 5,80. Como já alertei antes, a melhora dos ativos locais no início do ano poderia ser facilmente revertida se o governo insistisse em seguir o caminho errado. Pois bem, estamos nele. Hoje (27), a agenda traz o IGP-M de fevereiro, os resultados fiscais do Governo Central e a Pnad Contínua. No caso do último, vale lembrar: um mercado de trabalho aquecido significa maior consumo sobre uma estrutura produtiva sem ociosidade, o que eleva o risco inflacionário e pode forçar o Banco Central a adotar uma postura mais dura na política monetária. Isso ocorre justamente enquanto o governo flerta cada vez mais abertamente com a heterodoxia, em uma tentativa desesperada (e fadada ao fracasso) de recuperar a popularidade.

A insatisfação já começa a transbordar até mesmo em estados do Nordeste, historicamente beneficiados por políticas assistencialistas do PT. No meio dessa crise política, o ministro do STF Flávio Dino homologou um acordo com o Congresso para dar mais transparência ao uso das emendas parlamentares, liberando os pagamentos com algumas restrições. Enquanto isso, a Reforma Ministerial segue empacada, irritando o Centrão, que sobe o preço ou simplesmente desiste de entrar no governo — afinal, quem quer embarcar em um navio afundando? Lula perdeu a agilidade política, e a lentidão para promover mudanças na Esplanada é um reflexo disso. Basta lembrar o desastre que foi o pacote de contenção de gastos no final do ano passado (atrasado em mais de um mês) e agora a inércia na definição do Orçamento de 2025. A tese do efeito Biden 2.0 segue viva e reforça a grande probabilidade de uma mudança no pêndulo político por aqui em 2026, alinhada com o que temos visto pelo mundo. Mas, até lá, o caminho promete ser longo, turbulento e cheio de volatilidade. Prepare-se.

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· 01:46 — Volátil

Nos EUA, o S&P 500 flertou com sua melhor alta do ano e quase quebrou a sequência de cinco dias de queda. Mas, no apagar das luzes da sessão, o índice mal conseguiu escapar do vermelho, encerrando o dia com uma alta simbólica de 0,01%— um alívio decepcionante depois de ter chegado a subir quase 1% ao longo do pregão.

O culpado? Donald Trump. O mercado caminhava bem até o exato momento em que o presidente americano decidiu reacender a guerra comercial, anunciando que está preparando tarifas de 25% sobre importações da União Europeia. Se há uma coisa que Wall Street aprendeu na era Trump, é que qualquer ameaça tarifária precisa ser levada a sério. Até agora, as únicas tarifas efetivamente implementadas foram contra a China, mas a retórica protecionista segue viva — e o mercado entrou em modo defensivo.

Na agenda de hoje (27), os investidores processam os números da Nvidia, enquanto aguardam a segunda estimativa do PIB do quarto trimestre, que pode trazer novos elementos para a precificação da política monetária do Fed.

· 02:35 — Os números da queridinha

Na noite de ontem, a Nvidia, o grande ícone da tese de inteligência artificial e, atualmente, um dos pilares do mercado acionário americano, divulgou um resultado praticamente dentro do esperado. Suas ações oscilaram pouco após a divulgação, ajudando a sustentar o humor dos investidores durante a madrugada. A gigante dos chips de IA superou as estimativas de lucro e receita, ao mesmo tempo em que apresentou uma projeção para o trimestre de abril que ficou acima do consenso. Os números vieram robustos: lucro líquido de US$ 22,09 bilhões, um salto de 80% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto a receita atingiu US$ 39,33 bilhões, superando a projeção média do mercado de US$ 38,10 bilhões. O segmento de data centers, que tem sido o grande motor da empresa, dobrou de tamanho no quarto trimestre, impulsionado pela crescente demanda por infraestrutura de IA.

O CEO Jensen Huang está longe de mostrar qualquer sinal de cautela. Ele reforçou seu otimismo com as vendas do novo sistema de servidores Blackwell AI, que promete ser um divisor de águas na computação de IA. O NVL72, novo “predador de ponta” no universo do hardware de IA, é um salto significativo em relação à geração anterior, trazendo 72 GPUs conectadas dentro de um único rack de servidor, contra apenas oito GPUs da versão anterior. Um ex-executivo da Intel classificou o novo sistema como um verdadeiro monstro de densidade computacional, capaz de empacotar uma potência de processamento absurda em um espaço minúsculo. Huang revelou ainda que 350 fábricas ao redor do mundo participam da produção do sistema, que exige a montagem de 1,5 milhão de componentes por unidade. O mercado, naturalmente, está atento. Com um peso descomunal sobre o S&P 500 e grande influência sobre outras ações ligadas à IA, a performance da Nvidia será determinante para o tom do pregão de hoje. E, pelo menos por enquanto, as ações operam em alta no pre-market.

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· 03:21 — Definição orçamentária

Ainda nos Estados Unidos, o novo projeto de orçamento foi aprovado pela Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos, marcando o primeiro passo concreto para avançar com a estratégia econômica de Donald Trump: cortes massivos de impostos, ampliação do financiamento para a segurança de fronteira e reforço das forças armadas. A votação foi apertada, com 217 votos a favor e 215 contra, e seguiu as previsíveis linhas partidárias: todos os republicanos, exceto um, apoiaram a medida, enquanto os democratas votaram em bloco contra (com a exceção de um deputado que não compareceu). O plano propõe US$ 4,5 trilhões em cortes de impostos, incluindo a renovação das reduções tributárias implementadas por Trump em 2017, que estão programadas para expirar no final do ano. Para bancar essa conta, o projeto prevê cortes de US$ 2 trilhões nos gastos federais ao longo da próxima década, distribuídos em US$ 200 bilhões por ano – algo que, convenhamos, soa mais como um desejo do que uma realidade política viável. Além disso, o plano instrui o Comitê de Energia e Comércio a encontrar pelo menos US$ 880 bilhões em cortes dentro do Medicaid e Medicare — o objetivo é eliminar fraudes, desperdícios e abusos.

E a dívida nacional? Bem, atualmente ela já ultrapassa US$ 36,5 trilhões, e a proposta da Câmara pede um aumento do teto da dívida em mais US$ 4 trilhões. Mas esse novo teto só adiaria o problema até novembro de 2026, quando o limite seria novamente atingido. Nesse cenário, o Departamento do Tesouro teria que recorrer a medidas extraordinárias para evitar um calote do governo. O ponto central do plano, porém, é que os cortes de impostos estão atrelados diretamente aos cortes de gastos. Ou seja, para que a desoneração seja plenamente implementada, os republicanos precisarão entregar os cortes no orçamento que prometeram – o que, na prática, significa uma batalha legislativa feroz. Se falharem em reduzir despesas na magnitude pretendida, o pacote tributário encolherá proporcionalmente. No papel, a proposta tem o DNA clássico da cartilha republicana: menos impostos, menos Estado. Na realidade, trata-se de um jogo político arriscado, com impactos profundos sobre a economia e o equilíbrio fiscal. Afinal, prometer cortes é fácil – entregá-los, especialmente quando envolvem programas populares como Medicare e Medicaid, é outra história.

· 04:14 — Substituindo os EUA

Por muito tempo, a Europa se acostumou ao conforto de ter os Estados Unidos como sua rede de segurança, uma garantia que parecia inabalável. Agora, o continente se vê forçado a enfrentar questões que nunca imaginou ter que responder – e a principal delas é: o que acontece quando o guarda-costas decide abandonar o posto?

No início da semana, Friedrich Merz, futuro chanceler da Alemanha, lançou uma bomba política ao afirmar que os americanos são indiferentes ao destino da Europa. Segundo ele, os europeus deveriam assumir sozinhos a responsabilidade pela defesa do continente. A declaração reflete um despertar doloroso para a realidade geopolítica atual: os EUA podem não ter oficialmente se afastado da segurança europeia, mas a retórica e as ações de Donald Trump estão deixando essa possibilidade cada vez mais palpável. A postura agressiva de Trump em relação à União Europeia, seja no comércio, nas restrições à liberdade de expressão ou na guerra na Ucrânia, está acendendo todos os alertas em Bruxelas. O medo de um abandono completo da OTAN pelos EUA não parece mais um devaneio de alarmistas – ao contrário, tornou-se uma hipótese de trabalho para a política de defesa do bloco.

E o problema vai muito além de um simples discurso: se a Europa realmente precisar substituir o aparato militar americano, estamos falando de 300 mil soldados, centenas de tanques e peças de artilharia, segundo estimativas. O custo dessa aventura? Algo em torno de US$ 260 bilhões por ano. Para viabilizar um aumento tão expressivo no orçamento militar, o financiamento inicial teria de vir por meio de dívida pública – um detalhe incômodo, já que isso entraria em conflito direto com os limites de endividamento da UE e de seus Estados-membros, criados justamente para evitar crises fiscais. É aqui que a Alemanha se torna o epicentro da questão. Como prometido por Merz, a maior economia da Europa precisaria de uma guinada na sua política fiscal para acomodar esse novo cenário. Ele já deixou claro que não pretende enfraquecer os limites constitucionais de endividamento, mas considera criar um novo e gigantesco fundo de defesa, fora do orçamento tradicional. Um movimento que, se concretizado, representaria a maior reorientação da política fiscal alemã em décadas.

· 05:03 — Capturando a rotação

Até aqui, 2025 tem sido um ano de rotação de posições e fluxos, com investidores migrando dos grandes vencedores dos últimos anos, como o setor de tecnologia, para outros segmentos e regiões do mundo. O mercado está ajustando o foco, saindo das queridinhas da…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.