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Ata do Copom, reunião do Fed e queda do governo alemão: fique por dentro dos destaques econômicos desta terça (17)

A derrubada do chanceler alemão Olaf Scholz é mais um movimento de instabilidade política no continente europeu. Leia mais.

Por Matheus Spiess

17 dez 2024, 09:06 - atualizado em 17 dez 2024, 09:06

Imagem: iStock/ wenjin chen

À medida que aguardamos a decisão da reunião de política monetária do Federal Reserve, marcada para amanhã , 18, (o encontro começa hoje, 17), os investidores acompanham com atenção os dados de atividade nos Estados Unidos.

Embora esses números dificilmente alterem a aposta de um corte de juros na decisão na quarta-feira (18), eles podem ajudar a calibrar as expectativas sobre os próximos passos da autoridade monetária ao longo de 2025. A ansiedade em torno desse cenário contribui para a queda dos índices futuros americanos nesta manhã, após recorde do Nasdaq ontem (16).

O movimento negativo também se espalha pelos principais índices europeus, refletindo, em parte, a instabilidade política recente no continente. Ontem, o governo alemão foi derrubado em meio a divergências orçamentárias, evento que ocorre pouco depois da mudança de governo na França, igualmente motivada por impasses fiscais. Com isso, o dia amanhece marcado por um tom mais cauteloso internacionalmente.

No cenário asiático, as bolsas fecharam em baixa nesta terça-feira (17), com os investidores demonstrando crescente ceticismo quanto à eficácia das medidas de estímulo anunciadas por Pequim para impulsionar a economia chinesa. A percepção é de que as ações implementadas até o momento podem ser insuficientes para revitalizar o crescimento no país, adicionando mais uma camada de preocupação ao cenário global.

· 00:53 — Foi o próprio governo que se colocou na situação atual

No Brasil, o dia é marcado pela digestão da ata do Copom, que reforçou o tom hawkish (contracionista e conservador) já presente no comunicado da semana passada. Mesmo assim, um documento mais rígido pouco fará para consertar a confusão criada pelo governo. Em Brasília, a agenda reserva a votação da regulamentação da reforma tributária na Câmara, que, se aprovada, seguirá diretamente para sanção presidencial. Isso poderia aliviar o cronograma do Congresso, permitindo que o foco se volte para o pacote de contenção do crescimento dos gastos públicos e o Orçamento de 2025. No entanto, o clima é de incerteza. Ontem, o dólar fechou em R$ 6,09, atingindo nova máxima, mesmo com a intervenção do Banco Central. Como mencionei anteriormente, chegamos a um ponto em que intervenções no câmbio se tornam contraproducentes.

O problema central do Brasil, neste momento, é fiscal. O governo perdeu a confiança dos agentes econômicos, que questionam a disposição real de promover os ajustes necessários. No Boletim Focus desta semana, a mediana das expectativas para a Selic ao final de 2025 subiu de 13,50% para 14% ao ano. No entanto, a curva de juros já precifica uma Selic terminal acima de 16%.

Não se enganem: foi o próprio governo que se colocou nessa posição ao fracassar miseravelmente na apresentação de um plano crível para convergir as expectativas até 2026 (uma ponte até o período eleitoral). O mercado, calejado pelos erros da era Dilma, antecipa agora um cenário de crise semelhante. Como diz o ditado, gato escaldado tem medo de água fria. Nas palavras de Marcos Mendes, o governo perdeu o lastro da política fiscal. 

Hoje, o parecer do pacote fiscal deve ser apresentado, mas as resistências são significativas. O ministro Fernando Haddad terá que entrar em campo para impedir que o texto, já insuficiente e medíocre, seja ainda mais desidratado — algo que a ala política petista já fez em novembro durante as negociações. O cenário é complexo, e o Congresso tenta se antecipar ao endurecer a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025, que deve ser votada até quinta-feira. A LDO deverá exigir que o governo mire o centro da meta fiscal até outubro, sinalizando que outro ajuste será necessário.

A grande questão, no entanto, é: o governo tem vontade e força política para isso?

As projeções do Tesouro são preocupantes. Sem um pacote robusto, as despesas obrigatórias sujeitas ao arcabouço fiscal devem crescer, em média, 3% ao ano até 2034. Isso significa que, para cumprir as metas a partir de 2026, será inevitável um aumento de arrecadação, já que o governo insiste em se recusar a cortar gastos. A situação é uma verdadeira bomba-relógio. Segundo o Tesouro, as despesas discricionárias (não obrigatórias) devem ser zeradas até 2032, tornando o orçamento 100% obrigatório e, portanto, insustentável. Contudo, projeções mais pessimistas sugerem que esse colapso pode ocorrer já entre 2027 e 2028.

O mercado teme a incapacidade do governo de reconhecer que sua política fiscal atual é um tiro no pé. Em vez de ajustar a rota e adotar medidas estruturais, estamos assistindo à construção de uma crise de grandes proporções para o futuro. O cenário atual é apenas uma “foto bonita” dentro de um “filme muito ruim”. Ainda há tempo para corrigir o curso, mas o ceticismo predomina. O Congresso, por sua vez, parece mais preocupado com as articulações para a sucessão em 2026 do que com a responsabilidade fiscal, o que o impede de atuar como fez no passado. A única saída é o governo tomar a decisão correta e ajustar a trajetória fiscal imediatamente.

· 01:47 — Rali de Natal

Nos EUA, o Nasdaq Composite registrou mais um recorde de fechamento ontem (16), com alta de 1,2%, impulsionado principalmente por ações de semicondutores e outras empresas do setor de tecnologia. Em contrapartida, o Dow Jones Industrial Average seguiu em queda, recuando 111 pontos, ou 0,25%, acumulando sua oitava sessão consecutiva de perdas — a sequência negativa mais longa desde 2018. Já o S&P 500 avançou de forma tímida, mas revelou um mercado bastante desequilibrado: apenas 182 ações no índice fecharam em alta, contra 321 que registraram queda.

A falta de amplitude positiva tornou-se uma constante nos últimos dias (mais ações caindo do que subindo). A segunda-feira (16) marcou o 11º dia consecutivo de amplitude negativa no S&P 500, a mais longa sequência desde o início dos registros em 1999, evidenciando um movimento de alta fortemente concentrado em poucos setores e empresas.

Apesar desses sinais de fraqueza na base do rali, o movimento de Natal continua presente, ainda que uma leve correção esteja no horizonte imediato — como indicam os futuros para esta manhã. Os investidores aguardam ansiosamente a conclusão da reunião do Federal Reserve, que começa hoje (17) e será concluída amanhã, quando se espera um corte de 25 pontos-base na taxa de juros.

Antes disso, o mercado acompanhará os dados de vendas no varejo e produção industrial, que, embora não devam alterar a expectativa para o corte de juros nesta semana, podem sinalizar uma pausa no ciclo já em janeiro. Esse será um ponto de atenção crucial nos próximos dias, pois qualquer ajuste no tom do Fed poderá redefinir as projeções econômicas e os fluxos de mercado no início de 2025. Menos corte em 2025, é o que eu espero.

· 02:38 — Efeito Trump

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu ontem (16) suas propostas de elevação das tarifas sobre produtos estrangeiros, argumentando que elas são uma resposta a países que impõem altas taxações sobre exportações americanas. Durante seu discurso, Trump mencionou o Brasil e a Índia como exemplos de nações com tarifas elevadas. A declaração veio logo após o anúncio de um investimento de US$ 100 bilhões nos EUA por parte do CEO do SoftBank, ao lado do próprio Trump.

A retórica agressiva em defesa das tarifas comerciais e o discurso fortemente pró-negócios prometem ser dois dos principais pilares do novo governo, moldando a política econômica americana nos próximos anos. Prepare-se para ouvir muito sobre isso. Aliás, a busca por proximidade com Trump já começou. Os principais líderes empresariais dos Estados Unidos iniciaram uma verdadeira peregrinação até Mar-a-Lago, residência do presidente eleito, com o objetivo de estabelecer relações favoráveis com o novo governo. Um verdadeiro “beija-mão”. Nada mais que isso.

Na última semana, Sundar Pichai, CEO do Google (GOGL34), e Tim Cook, da Apple (AAPL34), fizeram a longa viagem da Califórnia até Palm Beach. Antes do feriado de Ação de Graças, foi a vez de Mark Zuckerberg, da Meta (M1TA34), visitar o presidente eleito. E nesta semana, Jeff Bezos, fundador da Amazon (AMZO34). A verdade é que, no mundo corporativo americano, todos agora parecem querer se posicionar como Elon Musk — uma figura que, nos últimos anos, soube como poucos navegar entre os interesses empresariais e políticos.

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· 03:24 — Mais um que caiu

Apenas duas semanas após o governo francês ter ganhado as manchetes com a destituição de seu primeiro-ministro, a Alemanha votou ontem pela saída do chanceler Olaf Scholz do cargo. Scholz, que ocupa o posto desde 2021, vinha enfrentando forte pressão para viabilizar um voto de desconfiança, abrindo caminho para eleições antecipadas o mais rápido possível. Sua coalizão governamental, composta por três partidos, perdeu a maioria no mês passado, após o partido pró-negócios abandonar o governo devido a um ano de disputas constantes com os outros dois membros da aliança, tendo o orçamento como principal ponto de discórdia.

A maior economia da Europa vive um cenário desafiador: este é o segundo ano consecutivo de crescimento econômico estagnado, e o desemprego alcançou 6,1%, o maior nível em quatro anos. A produção industrial acumula uma queda de 20% desde o pico registrado em 2017, uma retração considerada o “declínio mais acentuado” desde o final da Segunda Guerra Mundial. Como pano de fundo, os preços da energia subiram em até 40% desde 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia e interrompeu as exportações de gás natural para a Alemanha, exacerbando a crise energética no país.

O cenário atual evidencia um quadro preocupante na Europa, onde as estruturas políticas parecem cada vez mais instáveis, com grandes potências continentais enfrentando crises sucessivas. É importante notar como os desafios fiscais se tornaram uma pauta universal, muito além das fronteiras brasileiras, atuando como um catalisador para a ruptura de coalizões. O novo chanceler alemão deverá ser eleito em fevereiro, sete meses antes do calendário originalmente previsto (Friedrich Merz, dos conservadores, é o favorito). Até lá, Scholz continuará à frente do governo.

· 04:12 — Frágil

Os investidores continuam céticos em relação à eficácia das medidas de estímulo anunciadas pela China para revitalizar a economia. Os líderes chineses elevaram a meta de déficit fiscal para 4% do PIB em 2025, mantendo a meta de crescimento econômico em 5%. O senso de urgência por parte dos formuladores de políticas é evidente, especialmente após várias promessas de estímulos terem sido recebidas com desapontamento nos mercados globais.

O primeiro-ministro Li Qiang pediu aos funcionários do governo que implementem com celeridade as principais prioridades econômicas para o próximo ano, logo após a sinalização de um pacote de estímulo mais robusto por parte da alta liderança chinesa. 

A grande questão, porém, permanece: os esforços anunciados por Pequim serão suficientes para impulsionar a economia e, mais importante, ocorrerão com a rapidez necessária? Os desafios enfrentados pelo governo chinês são significativos e multifacetados. O país vem lidando com saídas de capital de seus mercados financeiros, registrando em outubro a maior retirada já documentada, segundo dados oficiais divulgados na segunda-feira (16). Essa fuga de capital reflete o receio persistente dos investidores quanto à fragilidade econômica chinesa e o agravamento das tensões comerciais com os Estados Unidos, especialmente diante da possibilidade de tarifas mais elevadas no futuro, o que adiciona novos riscos ao gigante asiático.

· 05:05 — Dividendo gigante

Se a inflação voltar a acelerar, as ações de empresas pagadoras de dividendos devem ganhar novamente a atenção dos investidores. Nesse contexto, vale observar o anúncio recente da Direcional Engenharia (DIRR3), que pode sinalizar boas perspectivas para quem busca retornos consistentes.

No início do mês, a companhia divulgou um fato relevante informando a assinatura de um memorando de entendimentos (MOU) com a Riza Gestora de Recursos para a venda de uma participação societária na Riva Incorporadora. Mas o que isso nos revela?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.